Pular para o conteúdo principal

Indicadores são desfavoráveis aos negros em Feira II

Em texto anterior discutimos a condição desfavorável do negro na Feira de Santana, com base em dados de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Apesar das visíveis e persistentes desigualdades, o Brasil atravessa uma fase de voraz supressão de direitos e de negação da exclusão secular. Os números – que retratam uma realidade distante, mas que pouco se transformou – reafirmam o desafio e podem ajudar a embasar políticas governamentais. Isso caso o tema permaneça na agenda pública, o que é incerto, dada a dura maré reacionária em curso.
Uma frase já célebre afirma que, no Brasil, pobreza tem cor. É a cor da pele dos afrodescendentes, em geral, e dos negros, em particular. Na Feira de Santana a assertiva também é válida: em 2010, o percentual de negros extremamente pobres era de exatos 6%; entre os brancos, o índice correspondia a menos da metade: 2,98%.
Entre aqueles considerados pobres a proporção é quase a mesma: os negros representam 17,32% e os brancos bem menos: 9,87%. Noutras palavras, o risco de ser pobre, para quem é negro, representa quase o dobro em relação aos brancos. Indicadores muito palpáveis – como a remuneração do trabalho – ajudam a demonstrar essas estatísticas.
Em 2010 o desemprego afligia mais os negros do que os brancos: 10,84% contra 8,20%. O índice de formalização do trabalho – a famosa carteira assinada – também era mais favorável aos brancos: 58,55% contra 50,24%. Essa precariedade se reflete sobre a remuneração: enquanto os brancos embolsavam, em média, R$ 1.748,02, os negros recebiam montante inferior à metade: R$ 871,33.

Remuneração

A desigualdade na média se reflete, obviamente, sobre a remuneração pelas diversas faixas salariais: os negros lideram entre aqueles que recebem até um salário-mínimo: 29,4% contra 17,99%; na faixa posterior – até dois mínimos – a “vantagem” se mantém: 81,63% contra 64,23%; mas se inverte entre quem recebe até cinco salários mínimos: 95,37% recebem até essa soma, enquanto entre os brancos essa diferença cai para 86,68%.
Lá se vão oito anos desde que o levantamento foi feito. E pouca coisa, efetivamente, mudou desde lá. Pior: a situação deve ter se deteriorado a partir de 2015, quando a implacável crise econômica em curso abalroou os brasileiros. Mais expostos à pobreza e à precariedade no trabalho, certamente os negros padeceram mais com a crise.
De positivo, desde então, houve a consolidação da política de cotas nas universidades públicas. Foi um passo louvável, mas que, isoladamente, é incapaz de reverter essas desigualdades históricas. Como não se avaliam políticas públicas com frequência e com a necessária transparência, não se sabe exatamente o alcance da medida.
De qualquer forma, os desafios seguem abissais. Sobretudo porque a ofensiva contra direitos duramente conquistados segue avassaladora. É o caso – só para rememorar – da reforma trabalhista e das investidas contra políticas sociais elementares, como nas áreas de saúde e educação. São essas políticas que beneficiam a população mais pobre – e negra – que necessita mais de serviços públicos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da