Os rumos das atividades comerciais são ditados pelos hábitos dos consumidores. A constatação, que é óbvia, se aplica até mesmo aos gêneros de primeira necessidade, como os alimentos. As mudanças no comportamento dos indivíduos favorecem o surgimento de novas atividades comerciais, assim como põem em xeque antigas estratégias de comercialização. A maioria dessas mudanças, porém, ocorre de forma lenta, diluindo a percepção sobre a profundidade e a extensão. Atualmente, por exemplo, vivemos a prolongada transição que tirou as feiras-livres do centro das atividades comerciais.
A origem das feiras-livres como estratégia de comercialização surgiu na Idade Média, quando as cidades começavam a florescer. Algumas das maiores cidades européias modernas são frutos das feiras que se organizavam com o propósito de permitir que produtores de distintas localidades comercializassem seus produtos.
As distâncias, as dificuldades de locomoção e a intermitência das safras exigiam uma solução que as feiras-livres contemplavam com plenitude: realizavam-se em uma localidade determinada (cujo acesso de dava pelas estradas que iam surgindo) e em datas determinadas, acomodando as difíceis (e arriscadas) locomoções.
Com o desenvolvimento das cidades, porém, surgiram os mercados, o transporte foi facilitado, a atividade comercial sobrepujou a agricultura e as feiras primitivas foram perdendo importância para os centros comerciais, onde surgiam inúmeros estabelecimentos.
FEIRA DE SANTANA
Feira de Santana também já foi uma feira-livre e, como muitas outras, surgiu graças à localização estratégica privilegiada. A antiga feira de gado incorporou produtos, originou pequenos estabelecimentos comerciais, atraiu moradores e se tornou a maior cidade do interior do Nordeste, conservando sua tradição mercantil até os dias atuais através de um comércio pujante.
A evolução, porém, promoveu transformações. A antiga feira, existente no centro comercial da cidade, foi transferida há 30 anos para o Centro de Abastecimento. As feiras-livres dos bairros se expandiam, normalmente acontecendo nos finais de semana. Foi também um reflexo do crescimento da cidade, que tornou as distâncias maiores e dificultou deslocamentos.
Mas mais adiante vieram outras transformações, com a proliferação dos supermercados de dimensões variadas, oferecendo uma maior variedade de produtos e funcionando durante todo o dia. Esses estabelecimentos, inclusive, entraram em concorrência direta com as feiras-livres, já que vendiam também produtos semelhantes.
URBANIZAÇÃO
O processo descrito acima caminha paralelo com a expansão urbana. Tanto que à medida que as cidades crescem, a importância relativa das feiras-livres se reduz. É o caso de Salvador: feiras-livres como São Joaquim hoje sobrevivem graças às atividades no atacado, embora ainda existam atividades que sobrevivam do comércio no varejo. No restante da cidade sobrevivem poucas feiras, como no Rio Vermelho e em Itapuã, mas que persistem vendendo no varejo.
O paradigma da distribuição de hortifrutigranjeiros, porém, é a central de distribuição (Ceasa) que funciona na rodovia CIA-Aeroporto e que fornece os produtos comercializados em boa parte dos bairros populares da capital. Esse sistema concorre com os grandes, médios e pequenos supermercados disseminados pela capital baiana e que, parcialmente, se abastecem na própria Ceasa.
É claro que Feira de Santana ainda não possui dimensões urbanas capazes de comportar um sistema organizado nesses moldes, já que aqui o varejo possui força e as distâncias são menores que em Salvador e na Região Metropolitana. Mas é indiscutível que o papel secundário desempenhado pelas feiras-livres frente à rede de supermercados é irreversível.
Culturalmente é algo lastimável. As feiras-livres são parte da herança cultural do Nordeste, fazem parte da essência do povo nordestino, moldado no enfrentamento das agruras climáticas e das limitações econômicas. Mas mesmo essa cultura viva parece fadada a sucumbir ante a lógica dos grandes supermercados, gestada na frieza dos escritórios dos Estados Unidos e da Europa. A evolução da História é irrefreável, diriam alguns, com razão. Mas no que se aplica às feiras-livres existentes Nordeste afora, seria desejável que essa evolução não fosse tão implacável.
Cara, seu texto é muito bom, e seria bastante útil numa matéria que estou produzindo. Posso citá-lo?
ResponderExcluirEduardo: Seu texto é muito bom, retrata a realidade das nossas feiras, um patrimonio que esta se perdendo no meio de um mundo capitalista tão moderno.
ResponderExcluirAndre, sou aluno da Fac III Campinas - SP. e estou fazendo um trabalho de faculdade onde estamos abordando extatamente a importancia da conservação da cultura de feiras, visando não só o lucro, mas tambem a preservção da tradição, o objetivo é aprimorar as feiras existentes, tornado-as mais agradaveis a todos os publicos.
ResponderExcluircaso tenha disponibilidade para conversar sobre o assunto e dar uma "mãozinha" com o trabalho ficarei grato.
meu e-mail/msn é, aurissol@hotmail.com