Tem deputado
esperneando contra a draconiana reforma da Previdência de Michel Temer, o controverso
mandatário. Acham o conteúdo duro demais contra a população. E tem razão: mais
um pouco, e aparece uma emenda propondo a revogação da Lei Áurea. Para aprovar
conforme a encomenda do “Deus Mercado”, o emedebismo revogou qualquer freio
moral: chantagens e ameaças de tomar cargos e cortar verbas têm sido
expedientes corriqueiros para aprovar a temerária proposta.
Muito deputado tem medo
de aprovar a reforma e naufragar ano que vem, nas urnas, quando o eleitorado
começar a perceber o embuste traiçoeiro. É provável que situações do gênero
ocorram. Mas, para conter parte dos imensos retrocessos tramados, é necessário
mais: é preciso que o povo vá às ruas, protestar.
Até aqui há silêncio
demais e nenhuma mobilização. Parece que o interregno petista arrefeceu os ânimos
das antigas lideranças sindicais. As novas, caso existam, ainda não mostraram serviço.
Essa modorra é amplamente favorável aos governistas, que tramam novos
retrocessos com cínica desfaçatez. São os casos da proposta de terceirização e
da revogação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), travestida de reforma
trabalhista.
Parece que, quando o
emedebismo mergulhar no seu ocaso, em meados do ano que vem, teremos regredido
à República Velha. Afinal, direito de trabalhador se tornou privilégio;
democracia é conversa fiada, perda de tempo; e a única instituição política
genuinamente legítima para os novos donos do poder é o balcão, esse secular
instrumento de persuasão.
Reação
A grande tragédia é que
não há reação: um ou outro movimento social se manifesta, consciente dos
imensos retrocessos que se avizinham; mas fica nisso, porque não existe reação
nas ruas, não se articula uma oposição combativa. Talvez porque a oposição
parlamentar alimente a ilusão de que vai barrar pela via do conchavo legislativo;
e também, talvez quem sabe, a orgia consumista dos últimos anos tenha diluído
quaisquer resquícios de consciência crítica coletiva.
É claro que o contexto
é extremamente difícil: orquestrada sabe Deus por quem, a ofensiva se dá em
diversos flancos – reformas previdenciária e trabalhista, terceirização,
privatizações, doação de patrimônio público – e combatê-las com eficiência é
difícil, exige uma articulação complexa que a sociedade desmobilizada não vai
conseguir.
Há dois anos, muita
gente foi às ruas dizendo-se de direita, antipetista, anticomunista. Ao
contrário do que talvez alguns pensem, pobre que se perfila com o Capital também
sofre. É o que se vê aí, com uma abrangente e rija revogação de direitos
duramente conquistados; e com a infindável crise econômica, que também fustiga
o desavisado pobre anticomunista.
Salvo um improvável
surto de covardia – incomum nesses tempos de cinismo sem pudor – é improvável
que o Congresso Nacional freie as draconianas reformas emedebistas. Mais
adiante será necessária muita luta para atenuar os estragos que se avizinham.
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