Em menos de dois meses, duas agências bancárias foram saqueadas em Cachoeira,
município vizinho aqui da Feira de Santana. O ataque só não teve maior alcance
porque, em dois outros bancos, os criminosos não conseguiram arrebentar os
caixas eletrônicos. Um deles ocorreu no belo e antigo prédio que sedia o Banco
do Brasil na cidade. O outro foi em uma agência do Bradesco. Como é praxe, em
nenhum dos ataques se soube quanto os ladrões levaram.
Dois fatores
fundamentais explicam os ataques em sequência ao município. Um deles envolve a
dimensão logística: Cachoeira é próxima da BR 101, não é distante da BR 324 e,
a partir dela, pode-se acessar diversas rodovias baianas, percorrendo distâncias
relativamente curtas. Quem conhece a fundo esses caminhos, escapa com maiores
chances de êxito.
Os atrativos, porém,
vão além: um intrincado sistema de estradas locais interliga Cachoeira a
distritos e pontos inimagináveis àqueles que desconhecem a região. É fácil
esconder-se, aguardando momento mais propício para a fuga. A estratégia orienta
muitos ataques a agências bancárias que acontecem Bahia afora.
Há outro fator
fundamental: a presença de quadrilhas estruturadas – as chamadas facções – não
apenas em Cachoeira, mas também nos municípios vizinhos. Comenta-se na cidade
que muitos criminosos locais atuam associados a organizações de Salvador e até
mesmo de São Paulo. Ninguém sabe se isso, de fato, é verdade; mas que o modus operandi é similar, é necessário
reconhecer.
Novo
Cangaço
Em fevereiro e meados
de março os ataques aconteceram pela madrugada. Uma infinidade de tiros foi
disparada para intimidar policiais ou eventuais curiosos; na fuga, os
criminosos queimaram carros em locais estratégicos para dificultar a
perseguição. Em ambos os ataques, a imponente e histórica ponte Dom Pedro II –
que liga Cachoeira a São Félix – foi palco desses incêndios.
É evidente, em
Cachoeira, o uso do método consagrado como “Novo Cangaço” em inúmeros ataques
Brasil afora. A estratégia vem sendo lapidada desde o início da década passada,
do Acre à Bahia, do Ceará ao Rio Grande do Sul, passando por Mato Grosso e São
Paulo, estados de grande incidência dessas ações. Pode haver mera inspiração,
mas a presença de experts nessa
modalidade, oriundos de outros estados, não pode ser descartada.
O mais assustador é que
esses experts podem estar residindo
aqui perto, pelas cercanias, utilizando a região como base para seus ataques.
Daí a repetição da investida em Cachoeira. O fato é que esses bandos agem com
inteligência e sofisticação acima da criminalidade média. E as instituições
policiais se mostram pouco preparadas para contê-los, antecipando-se às suas
ações.
Ataques futuros – e,
talvez, próximos – não podem ser descartados na região. Nessa modalidade
criminal, método, equipamentos – armas e veículos – e mão de obra qualificada
se movem com espantosa facilidade pelas fronteiras porosas do País. Criminosos
que agem no Norte ou no Sul do Brasil podem, amanhã, estar oferecendo suporte
para ousadas – e lucrativas – ações pelo país, inclusive por aqui.
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