Querem privatizar a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. É o que já se insinua a partir do
noticiário dos últimos dias. O script
é o mesmo de sempre: primeiro anunciam-se prejuízos milionários – o que não
deixa de ser verdade -, em tom de descalabro; depois se afirma que a direção da
empresa sempre foi indicada pelos partidos políticos, o que explica esse
descalabro. Fica, então, um silêncio calculado no ar: qual a solução para o
problema? Privatizar porque, por princípio, a gestão privada é preferível à
pública.
Isso ainda não foi dito
explicitamente. Mas o terreno está sendo preparado. Ironicamente, é o
emedebismo quem se escala para tocar essa jornada redentora – convertendo-se de
inveterado penduricalho na administração pública em arauto do redentor
liberalismo caipira – como se sobrassem credenciais à legenda para empreitada
do gênero.
A semana começou com a
notícia de que milhares de funcionários da empresa podem perder seus postos de
trabalho. Sorrateiramente, surgiu a insinuação de que não existe jeito; que
mesmo com muitos funcionários, falta gente para diversas funções; que os custos
com mão de obra são muito elevados; que a indicação política é um câncer que
inviabilizou a empresa. E aí fica, pairando no ar, a interrogação sobre o que
fazer.
Os próximos
desdobramentos podem indicar dois caminhos: a privatização impiedosa, sem choro
nem vela, mas com ranger de dentes; ou o jeitinho habitual: enxertar levas de
terceirizados na empresa, aproximando-a da lógica radical cada vez mais vigente
no Brasil. Viabilizar qualquer destas alternativas vai exigir esforço imenso e
– acredito – deve despertar uma reação descomunal dos funcionários da empresa.
Investida
ampla
Vá lá que o brasileiro,
letárgico, pouco reage aos rijos ataques a seus direitos, ou ao patrimônio
coletivo, orquestrados nos últimos meses. Tudo bem que as questões de interesse
nacional despertem-lhe, apenas, bocejos. Compreende-se que o mantra da
perfeição da gestão privada fincou raízes sólidas sobre suas ideias, limitando
outras formas de interpretação. Isso nem é novidade.
Mas, mesmo assim, a
velocidade da investida espanta. Direitos trabalhistas, Previdência,
terceirização despudorada, reforma do Ensino Médio – sob medida para alvejar os
pobres que ingressam na educação superior pelo sistema de cotas -, teto de
gastos, mudança nas regras do pré-sal, doação de patrimônio público a
multimilionárias empresas privadas, tudo isso veio numa enxurrada só.
Agora é a vez dos
Correios. Nenhum país relevante no mundo tem o seu sistema postal totalmente
privado, conforme anseiam os emedebistas. Mas aqui, ultimamente, os mais
ardorosos profetas do privatismo são, justamente, aqueles que mamaram nas tetas
estatais durante décadas. Imagino que essa conversão inusitada constitua parte
do pacto de poder, que sustenta a questionável legitimidade do mandatário de
Tietê.
Tudo indica que o
episódio dos Correios vai integrar os próximos capítulos da triste novela do
desmanche do Brasil. Fica a dúvida sobre até quando permanecerá a omissão.
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