Foi confusa
a aprovação da reforma da Previdência dos servidores estaduais de São Paulo.
Aliás, a mudança no sistema previdenciário de lá foi aprovada apenas no primeiro
turno e depende de uma segunda votação na Assembleia Legislativa. E, na
primeira, passou raspando: foi aprovada pela diferença de um único voto. O
pacote de maldades inclui a elevação da idade mínima para a aposentadoria –
inclusive de quem já está na ativa – e o aumento da alíquota da contribuição de
11% para 14%. A receita perversa é a mesma de Jair Bolsonaro, o “mito”.
Lá, o
governador João Dória (PSDB-SP) enfrentou encarniçada resistência ao projeto
que, como se sabe, não tem nada de popular: a oposição foi liderada pelos
petistas, que se travestiram de defensores dos fracos e oprimidos. Para tentar
reverter a decisão na segunda votação, houve a promessa até de carro de som à
frente das casas dos deputados. Em suma, oposição iracunda.
Em Brasília
– quando a proposta do “mito” foi votada – houve a mesma reação. Vozes se
ergueram, indignadas, contra a medida; manifestações foram convocadas pelas
centrais sindicais ligadas aos partidos de esquerda. Naquele cenário, as
nuanças entre governo e oposição ficaram muito claras, o que é raridade nesses
tempos.
Noutros
estados, porém, faltou o mesmo empenho contra reformas previdenciárias. São os
casos, por exemplo, da Bahia, do Ceará e do Piauí, três governos estaduais
comandados por petistas. Nesses estados, as reformas – com teor muito
semelhante à do “mito”, é necessário ressaltar – foram aprovadas com a
ostensiva presença da Polícia Militar. Contrariando os colegas paulistas, nos
três estados os deputados petistas votaram a favor.
A suprema zombaria
é que muitos políticos que se dizem defensores dos trabalhadores foram para a
ofensiva contra os servidores públicos: acusaram-nos de regalias, de
privilégios, de salários elevados. Exatamente o mesmo discurso da
extrema-direita encastelada no poder.
A essa gente
faltou a sensatez do silêncio obsequioso. Optaram por acusações cínicas, já que
a parcela do funcionalismo pejada de privilégios é uma minoria que não foi
afetada. Os próprios deputados, aliás, apreciaram a matéria tranquilamente: suas
aposentadorias polpudas e os demais mimos foram sorrateiramente mantidos.
É bom os
petistas prestarem atenção em suas contradições. Afinal, julgam que, em 2022, o
partido volta à presidência da República, aclamado pelas massas frenéticas,
depois do desastroso governo do “mito”. Talvez seja recomendável cautela nos
devaneios sobre este roteiro. Conforme se vê, as contradições se avolumam e
podem desagradar eleitores.
Nota-se que,
para muitos na legenda, a agenda à direita não incomoda. Ao contrário: alguns
caciques petistas a abraçam sofregamente. A manobra talvez embuta um erro
estratégico: as diversas vias do liberalismo tupinambá já estão obstruídas, da
extrema-direita ao “centrão”.
Se é assim, talvez em 2022 o eleitor prefira o
pitoresco ultraliberalismo que está aí na janela a uma aventura genérica...
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