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O “eterno retorno” de camelôs, ambulantes e feirantes ao centro

O imbróglio envolvendo o polêmico Shopping Popular na área do antigo Centro de Abastecimento continua rendendo. Hoje (02), mais uma vez, camelôs e ambulantes compareceram à Câmara Municipal em nova manifestação. Portando cartazes e entoando palavras de ordem, eles exigiram engajamento dos vereadores para resolver a pendenga, sobretudo em relação às taxas cobradas no empreendimento.
A prefeitura – responsável pela Parceria Público-Privada com uma empresa particular – anuncia um cronograma que estabelece o fim de março como prazo final para todos os camelôs e ambulantes deixarem o centro da cidade. Segundo informações oficiais, boa parte dos 1,8 mil trabalhadores que atuam nas vias centrais da cidade já assinou contrato e recebeu as chaves.
Só que a polêmica permanece. E em meio ao enrosco, a Defensoria Pública do Estado resolveu intervir. Está em curso uma ação civil pública visando defender os interesses dos camelôs e ambulantes, de acordo com o documento elaborado pelos defensores.
Nele, alega-se que o “referido projeto não atende ao interesse público, tampouco visa melhorar as condições de trabalho dos camelôs e ambulantes de Feira de Santana”. Na visão dos defensores, o projeto “acirra o processo de gentrificação e privatização do espaço público”.
Os conflitos relacionados à ocupação das vias públicas no centro da Feira de Santana por camelôs, ambulantes e feirantes são antigos. Remontam à época da transferência da feira-livre para o Centro de Abastecimento, em meados dos anos 1970. A resistência foi grande na ocasião, mas prevaleceu a força do poder público e o discurso da “modernidade” como instrumento de convencimento.
Desde então, porém, houve incessantes tentativas de retorno de camelôs, ambulantes e feirantes às ruas do centro. As tensões com os lojistas – que se julgavam livres a partir da inauguração do Centro de Abastecimento – foram constantes.
Crises econômicas, desemprego, conveniência para os consumidores e certa leniência do poder público – mesmo com a eventual atuação do “rapa” – contribuíram para o cenário atual. Nem o “Feiraguay” foi capaz de dar vazão às levas de trabalhadores que recorriam à informalidade para garantir a própria subsistência e de suas famílias.
Depois de décadas de muito conflito, a proposta da prefeitura é ambiciosa: remover todo mundo e bancar uma revitalização das vias centrais, talvez nos termos do que se processa no Centro Antigo de Salvador.
É uma aposta alta, sobretudo porque o retorno de camelôs e ambulantes ao centro não pode ser descartado. Afinal, já se verificou no passado e um aspecto pode ser determinante para se verificar esse movimento mais uma vez: caso se tornem inadimplentes e percam o direito de trabalhar no Shopping Popular, para onde vão esses trabalhadores?
Esta é, sem dúvida, a principal questão a ser respondida no momento.

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