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Os efeitos do coronavírus sobre a economia informal feirense

O prefeito Colbert Martins Filho agiu corretamente ao suspender a Micareta da Feira de Santana, até então programada para o período de 23 a 26 de abril. Naquela oportunidade – é o que indica levantamento das autoridades que acompanham a evolução da epidemia do coronavírus no Brasil – a doença vai estar se aproximando do seu auge. Manter a festa, com cenário do gênero, provocaria uma catástrofe.
Tudo indica que outros eventos também devem ser suspensos, justamente para evitar aglomerações. Festas pré-micaretescas, apresentações musicais, eventos esportivos e tudo que implique em concentração de público deve ser evitado nos próximos meses. Medidas similares foram adotadas em países que já enfrentaram a epidemia de forma mais aguda, como a China e a Itália.
A medida radical causa estranheza a muita gente. Mas poucos percebem que o número elevado de casos num intervalo curto – característica de uma epidemia – tende a estrangular ainda mais os serviços públicos de saúde e causar mais mortes. Negligenciar o problema, empurrá-lo para adiante, apenas amplificaria a doença, convertendo-a numa catástrofe.
As decisões para minimizar os impactos do coronavírus sob a perspectiva da saúde pública, porém, produzem efeitos que extrapolam essa dimensão e alcançam as esferas econômica e social. A retomada da economia – que anda de lado desde a profunda recessão – tende a se retardar. Já há quem fale em recessão no primeiro semestre, por conta da epidemia.

Camelôs e ambulantes

Caso, lá adiante, surja a necessidade de decisões mais severas, como a restrição à circulação de pessoas, os efeitos sobre a economia serão ainda mais danosos. Quem mais vai penar é justamente quem transita pelo circuito mais precário da atividade econômica: os trabalhadores informais. Aqui na Feira de Santana, como se sabe, eles são dezenas de milhares.
É certo que algum impacto sobre a economia é inevitável: muita gente, assustada com a epidemia – e até em pânico – vai restringir a circulação e vai consumir menos porque decidirá mudar os hábitos até o fim do surto. Só a suspensão de aulas – escolas e universidades podem adotar a medida, como se vê em muitos lugares – já produzirá efeitos negativos. Uma paralisação mais ampla, então, nem se fala.
O fato do centro da cidade ser local de intensa circulação de pessoas – o que, em tese, aumenta do risco de contágio –, por si só, vai assustar muita gente, que vai diminuir o trânsito por ali. Quem trabalha na região, seguramente, tende a sofrer com o enxugamento da clientela. Esses efeitos devem despontar mais adiante, quando o número de casos aumentar.

Precariedade

Tudo indica que o Brasil vai atravessar meses de turbulências econômicas intensas. Sem o amparo da previdência ou de direitos trabalhistas, os que labutam na informalidade serão os mais afetados. O vertiginoso desmanche de direitos – acentuados a partir da ascensão de Michel Temer e aprofundados pelo “mito” Jair Bolsonaro – produzirá efeitos muito visíveis, agora, a partir do coronavírus.
O discurso do empreendedorismo – para a maioria, eufemismo para biscate ou precarização – magnetizou muita gente nos últimos anos. Foi o momento em que se dizia combater o “comunismo” petista; os pobres mais afoitos batiam no peito, declarando-se “liberais”, mesmo ignorando o que a expressão significa. Agora, os efeitos começarão a vir à tona.
A experiência vai mostrar que um país profundamente desigual não pode prescindir de uma rede de proteção social, que está aí, mesmo precária, sendo desmanchada. Mas isso é coisa para lá adiante. No momento, o brasileiro tem que se voltar para enfrentar a epidemia de coronavírus. Sem pânico e com a sensatez que vem faltando a muitos governantes...

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