Feira de Santana está
atravessando a década mais violenta de sua História. Já faz tempo que o número
de assassinatos superou o do decênio passado, que tinha sido o mais sangrento
até então. Não é à toa que o município se sobressai nesses tristes rankings da
violência, divulgados por instituições governamentais e por organismos
internacionais. O Brasil enfrenta epidemia similar – ano passado aconteceram
mais de 60 mil assassinatos, um recorde mundial – e, o que é mais desolador, o
debate sobre o tema é pouco alentador.
Há, inclusive, sinais
inquietantes de que a Segurança Pública se tornou objeto de ações
espetaculosas, demagógicas. É o caso da intervenção federal no Rio de Janeiro
que, quatro meses depois, apresenta resultados pífios, conforme era facilmente
previsível. Movido pela ilusão de uma candidatura presidencial, Michel Temer
(MDB-SP), o mandatário de Tietê, adotou a medida, pensando nos eventuais bônus
eleitorais.
Há poucos dias, às pressas, o
Congresso Nacional aprovou o projeto que institui o Sistema Único de Segurança
Pública, movido pelo apelo do tema e pelas eleições que se aproximam. No papel,
parece algo avançado: a União assume a incumbência de coordenar as ações na
área, em nível nacional, firmando parcerias com Estados e Municípios. Na
prática – dado o clima político e o ritmo moroso das ações – ninguém deve
comemorar antecipadamente.
Em meio a essas ações voluntaristas,
há a desconfortável discussão dos pré-candidatos à Presidência da República.
Alguns, ambíguos, tangenciam o tema. Mas há aqueles que se perfilam na linha de
frente da questão – e defendem rearmamento, endurecimento da legislação penal, carta
branca para as polícias saírem matando – e fazem sucesso defendendo a violência
para reduzir a violência.
E
a educação?
Noutra frente, o mandatário de
Tietê vem reduzindo recursos da Educação para, supostamente, reforçar o orçamento
da segurança. Até um Ministério da Segurança criaram – mais um penduricalho que
beneficiará aliados políticos – para, demagogicamente, atender a pretensos
apelos populares. Tudo indica que é mais uma iniciativa perdulária e inócua, similar
à intervenção federal no Rio de Janeiro.
Conter o genocídio em curso no
Brasil exige mais do que comprar viaturas, coletes, munição, armamento, pagar
premiação a policial e fazer concurso todo ano. Também exige mais que a farta
propaganda que vende uma realidade que, na prática, ninguém enxerga. Afinal, a
vida verdadeira se mostra muito mais dura que os adocicados clichês dos
marqueteiros.
Não se ouvem comentários dos
governantes sobre investir em educação para os mais pobres – principais vítimas
dos assassinatos, conforme qualquer levantamento atesta – e em iniciativas de
inclusão social que beneficiem, sobretudo, os jovens que vivem por aí sem
perspectiva. Pelo contrário: o mantra do momento são os cortes, os
contingenciamentos, as supressões.
Caminho
árduo
A partir do momento em que veio
o garrote da crise, os pobres foram os primeiros penalizados. Os cortes na
educação, na saúde, na assistência social, em ações de inclusão, foram vorazes,
como sempre. Só que, agora, surge a necessidade de ampliar recursos da
segurança pública – farejando-se a direção do barômetro eleitoral – e remaneja-se,
obviamente, o dinheiro que costuma contribuir para elevar um pouco a qualidade
de vida do pobre.
Isso significa que se
estabeleceu um dilema perigoso: investir na segurança pública ou em áreas
sociais, como a educação? Pelo que se percebe, a opção – ideológica, inclusive
– é clara: os pobres que se virem, porque a prioridade é atender os apelos da
classe média. Abandona-se, assim, de vez, a busca por soluções integradas, já
que violência não é, exclusivamente, um problema de segurança pública.
O que esperar do futuro
próximo? Provavelmente o endurecimento que alguns defendem. Virão mais prisões,
mais mortes, mais violência, mais exclusão e mais cisão na já fraturada
sociedade brasileira. Mas isso ainda depende das urnas, do processo eleitoral
em outubro. A esperança é tênue, mas, quem sabe, esse cenário se desfaça até lá
e o País comece a reencontrar seu rumo...
Comentários
Postar um comentário