A
degradação do Centro de Abastecimento vem se acentuando há algum tempo. Os
visitantes mais atentos apontam a sujeira disseminada, a insegurança alarmante
e a deterioração geral da infraestrutura como problemas crônicos que se
acentuaram nos últimos tempos. Para completar, as obras do badalado shopping
popular implicaram na colocação de tapumes metálicos que restringem a
circulação e produzem poeira nos dias de sol e muita lama nos dias de chuva.
Quem
se locomove pelo entreposto vive assustado. Sobretudo naquele galpão
intermediário aonde se amontoam os varejistas de verduras e legumes. Escuro,
sujo e malcuidado, o espaço se tornou refúgio para a malandragem, que circula
por ali sem maiores embaraços. Feirantes e consumidores exibem feições
assustadas, porque os riscos de ações violentas, como roubos e agressões – e
até assassinatos – são evidentes.
É
longo o histórico de descaso com o equipamento. As calçadas por onde circulavam
os pedestres já não existem há muito tempo, destruídas pelo uso e pelo tempo;
as cercas metálicas vivem arrebentadas e qualquer um invade o entreposto; as
condições dos banheiros, de tão degradadas, são indescritíveis. Qualquer visita
rápida e pouco metódica permite constatar tudo isso.
Parece
evidente que o desdobramento natural dessa sistemática degradação é o
afastamento da clientela. Muitos recorrem às compras na Rua Marechal Deodoro,
na Praça Bernardino Bahia, nos becos espalhados pelo centro da cidade. Outros procuram
as feiras-livres de bairro, igualmente degradadas, ou aos mercadinhos do
comércio popular. Já os mais abastados compram nos supermercados limpos e bem
iluminados das grandes redes.
Nova PPP?
O
novo capítulo desse imbróglio antigo foi a visita que o prefeito Colbert
Martins (MDB) fez a Teresina, no Piauí. Lá, existe um festejado exemplo de
Parceria Público-Privada (PPP) que toca a Ceasa Nova daquela capital. No
retorno, o prefeito anunciou a possibilidade de transferência do Centro de
Abastecimento feirense para outro lugar, sem maiores detalhes.
Meses
atrás cogitamos essa possibilidade aqui mesmo, na Tribuna Feirense. Na época observamos que o entreposto cedia parte
de seu espaço para uma atividade diferente de sua vocação original – o shopping
popular – e que o risco de remoção total era palpável. Afinal, aquele amplo,
bem localizado e valioso espaço é tentador demais para, nos dias de hoje,
seguir abrigando uma deteriorada feira-livre, com todas as mazelas indicadas
acima.
O
prefeito prometeu na entrevista “diálogo” para discutir a questão da remoção. A
essas alturas, pelo jeito, já não se trata de uma mera cogitação, de uma
hipótese. É provável que se pretenda, de fato, fazer a transferência. A ideia,
a propósito, nem recente é: cogita-se realocar o setor atacadista há anos. A
novidade fica por conta da remoção integral, que é algo muito radical e que vai
reconfigurar toda a lógica do comércio feirense.
Questão complexa
Tomara
que a questão não seja tratada da mesma forma que a remoção do pessoal do
artesanato. Afinal, a transferência completa das atividades envolve múltiplos
interesses que devem ser considerados. Além dos feirantes e comerciantes, há a
variada clientela do entreposto; há fornecedores e consumidores de municípios
circunvizinhos, cuja presença no Centro de Abastecimento é constante. E há a
própria conexão com o comércio no centro da cidade, que vai ser afetada.
Certamente
hoje não existem áreas centrais disponíveis para transferir o Centro de
Abastecimento. Falava-se, tempos atrás, na realocação para a BR 116 Norte, na
saída da cidade, para Serrinha. Mas isso para o comércio atacadista. E o ramo
varejista, que movimenta mais gente e que existe uma infraestrutura de
mobilidade urbana que a cidade não dispõe hoje? Caso a discussão avance, vai
ser necessário planejar isso com muito cuidado.
Por fim, nesses tempos em
que a bancada ruralista orquestra levar mais veneno à mesa do brasileiro, com a
liberação de agrotóxicos, uma questão delicada se impõe: como serão preservados
os espaços de comercialização da agricultura familiar? As mudanças não vão
dificultar a vida dos pequenos agricultores, favorecendo os barões do
agronegócio? Isso é apenas uma das vertentes de uma mudança que – espera-se –
não replique os padrões da mudança da feira-livre do centro da cidade, há
quarenta anos, quando se vivia em plena ditadura militar...
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