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Sufoco para as compras da Semana Santa no Centro de Abastecimento

Aquele galpão do Centro de Abastecimento que abriga a venda dos produtos típicos da Semana Santa é um dos mais fervilhantes do entreposto. Localizado no piso intermediário – entre o galpão de carnes e o piso atacadista de frutas e verduras –, ali se encontra de tudo. O repertório inclui o camarão seco, o quiabo, a massa pronta para o vatapá, a castanha de caju e o gengibre. Nessa época, montes enormes de produtos garantem o lucro de quem vende e a variedade para quem compra.
Lá perto também é possível encontrar os ingredientes que reforçam o sabor dos pratos da época: a cebola branca, o tomate, as hortaliças. Antigamente, pela rampa ou pelas escadas, o consumidor chegava ao galpão de carnes, aonde também se vendia o peixe fresco que, nas criativas cozinhas feirenses, convertia-se em moqueca ou num singelo ensopado.
Meses atrás a prefeitura inaugurou, no próprio piso intermediário do Centro de Abastecimento, um conjunto de boxes para a comercialização de peixes e mariscos. Aquele espaço, portanto, está debutando na Semana Santa, período do ano de mais intenso consumo de pescado.
A Quinta-feira Santa e a manhã da Sexta-feira da Paixão envolvem uma azáfama, um corre-corre para preparar muita comida porque, para o baiano, a data é festiva, de celebração em família, de generosos banquetes. Nada do silêncio e do recolhimento católicos dos tempos em que a Quaresma tinha elevada conotação espiritual. O Centro de Abastecimento ocupa posição central na estratégia comercial do período.

Mazelas

Em 2019, porém, não dá para redigir a crônica da celebração ignorando as deploráveis condições em que se encontra um dos principais entrepostos comerciais da Feira de Santana, que é o Centro de Abastecimento. As intermináveis obras do festejado shopping popular – é visível que há poucos trabalhadores na labuta – prolongam o calvário de feirantes, comerciantes e consumidores que ainda se aventuram pelo local.
No piso superior os pedestres se locomovem em função das conveniências da obra. Há lama quando chove – e as chuvas costumam se tornar frequentes em abril – e, quando o piso seca, uma poeira avermelhada congestiona gargantas e nubla o horizonte. Isso para não mencionar a escuridão prevalecente nos galpões de carnes e de cereais e no próprio estacionamento que ganha forma lentamente.
Tapumes metálicos, montes de terra mexida e material de construção se tornaram comuns também ali aonde feirenses e visitantes vão comprar os ingredientes para a ceia da Semana Santa. Além das dificuldades naturais – preços turbinados, dificuldade de acesso ao entreposto, insegurança – há a dificuldade adicional para se driblar entulho ou encontrar passagens que permanecem abertas.
Promete-se a entrega do badalado – e polêmico – entreposto para os próximos meses. Mas e o Centro de Abastecimento? O que vai mudar por ali a partir de então? É uma pergunta candente, que inquieta quem trabalha ali. Por enquanto, tudo que há são perguntas sem respostas.
O mais evidente sentimento dos comerciantes é a esperança de que, ano que vem, o entreposto esteja mais acolhedor para os seus milhares de frequentadores.

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