Se algum
hipotético extraterrestre acompanha o cotidiano político do Brasil nalgum ponto
longínquo do universo, certamente já firmou a convicção de que a coisa, por
aqui, não tem nenhuma chance de dar certo. A penúltima – há sempre algum novo
absurdo despontando no noticiário – foi a contenda envolvendo três figuras
graúdas: o ex-astrólogo, guru do novo regime, um dos rebentos do mandatário do
Vale do Ribeira e o próprio vice-presidente, o general aposentado Hamílton
Mourão.
O primeiro
despejou impropérios sobre o Exército e o vice-presidente num canal virtual. A
peça – como sempre, pejada de palavrões – foi compartilhada por um dos filhos
de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), expert em
mídias sociais. No rebuliço que se seguiu, a reação mais adulta, mais uma vez,
foi a de Hamilton Mourão, que se limitou a ironizar o ex-astrólogo.
Pior que o
quiproquó foi a razão apontada pela imprensa: julgam que Jair Bolsonaro anda
assombrado com a projeção do vice. Pelo que se especula, teme que o parceiro de
chapa se torne um novo Michel Temer, aplicando-lhe uma rasteira e assumindo o poder.
A ele, obviamente, estaria reservado o papel de “Dilmo”. Este, aliás, já é o
apelido com o qual o tratam nos corredores do Congresso Nacional.
Muitos não
perceberam, mas surge uma nova zona de tensão no conturbado governo que
planejava redimir o Brasil. E é preocupante, pelo potencial de causar estragos.
Soma-se ao desconcertante laranjal, à suspeita proximidade das milícias
cariocas, às reiteradas declarações desastradas, à incompetência, à escassez de
ideias e à ausência de projetos, para não tornar a lista enfadonha de tão
longa.
Azedando
tudo, os primeiros indícios de que a economia brasileira, na melhor das
hipóteses, vai crescer ínfimos 2% em 2019. Ou seja, bordejará a estagnação, se
o cenário mais positivo se confirmar. É o que estimam organismos internacionais
e respeitáveis instituições financeiras. Há quem vocifere, acusando essa gente
de ser “comunista”, mas o fato é que, salvo algum milagre – o que não existe na
seara econômica – o crescimento vai ser medíocre mesmo.
Não faltou
quem apostasse que Bolsonaro seria “domado” ou que a cadeira de presidente o
“consertaria”. Quem se fiou nisso foi, no mínimo, ingênuo. Outros,
esperançosos, creem que tudo vai se ajeitar, que o governo entrará nos trilhos.
Os dois grupos estão sofrendo baixas. Afinal, pesquisas de opinião já captam
queda na popularidade presidencial; e muitos empresários, os entusiasmados de
ontem, estão arredios, não coçam os bolsos para investir.
As eleições
presidenciais de 2018 atiraram o Brasil num beco sem saída. As firulas, os
clichês e a pirotecnia distraíram a plateia durante uns poucos meses. Mas isso
está acabando. Afinal, o repertório é exíguo e já se esgota. E há, aí, um País
cheio de problemas para ser tocado:
- Mas por
quem?
É o que já indaga por aí, atônito, o sujeito
mais esclarecido, atento ao noticiário.
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