O
calamitoso governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ) resolveu dobrar a aposta contra as
universidades públicas. Depois das monumentais manifestações de ontem (15),
contra a reforma da Previdência e os cortes orçamentários na Educação, ontem mesmo
veio mais uma medida. Os reitores – eleitos pela comunidade acadêmica – não
poderão mais indicar, livremente, pró-reitores, diretores de centro e campus.
Isso veio por meio de decreto publicado no Diário Oficial da União.
Haverá
filtros para selecionar essa gente, cujo aval vai depender da Casa Civil: “O
sistema integrado de nomeações (...) fará pesquisa à Controladoria Geral da
União e à Agência Brasileira de Inteligência do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República”. A data de início da vigência foi
fixada no próximo dia 26 de junho.
A
medida provavelmente escancarará as portas das universidades para aboletar todo
tipo de exotismo: gente que crê em terra plana, ardorosos combatentes do
“marxismo cultural”, iluminados pensadores que enxergam o nazismo à esquerda e
até sábios que sabem recitar a fórmula da água ou que decoraram a tabuada na
íntegra. Isso para não mencionar, claro, aqueles que exaltam o período idílico
da ditadura militar.
Por
outro lado, os filtros ideológicos vão expurgar a gente suspeita de comunismo –
um conceito muito elástico na visão dos que se aboletaram no poder – e de
inúmeras perversões, como a refutação do “criacionismo” ou a classificação da
ditadura militar como aquilo que foi: ditadura. Mérito acadêmico ou gerencial –
nem precisa comentar – não figurará entre os critérios de avaliação.
É
difícil não enxergar nisso mais que um gesto autoritário: é disposição
ditatorial mesmo, quiçá totalitária. Em sociedades sadias isso nem seria
refutado, porque governantes comprometidos com a democracia jamais proporiam
tamanho absurdo. Aqui, não: certamente avultarão defensores, adeptos
entusiastas do “nós contra eles” que o novo regime alimenta com sofreguidão.
As
manifestações – certamente mais de um milhão de brasileiros compareceu às ruas em
mais de 200 cidades brasileiras – acenderam uma centelha de esperança em
relação a esses absurdos. Por outro lado, a rejeição ao mandatário do Vale do
Ribeira cresce sistematicamente desde a posse. E, no Congresso Nacional, nada
anda graças à compacta incompetência dessa gente.
Isso
não impede, porém, o desmanche da administração pública, a precarização dos
serviços públicos e retrocessos em temas como o meio ambiente. Mas os atos
desabrocham a expectativa de uma resistência consistente e organizada contra os
desmandos que se avolumam.
Lembro-me do poeta e dramaturgo
Bertolt Brecht: levaram os negros, os operários e os miseráveis; e o cidadão
ficou indiferente, porque não era com ele. Depois ele próprio foi levado. É a
mesma situação das universidades públicas hoje no Brasil: quem achar que não é
consigo e não se mexer pode aguardar que sua vez vai chegar...
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