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Governando da arquibancada

Da arquibancada imaginária – às vezes o cenário se desloca para as badaladas lives – veio, por exemplo, a intervenção nos preços dos combustíveis. De lá veio, também, a interferência numa propaganda do Banco do Brasil, cujo foco era a diversidade. A mais recente – pelo menos enquanto essas mal-traçadas vão se avolumando – foi o pedido para reduzir a taxa de juros do Banco do Brasil para os amigos ruralistas.
A mais espantosa, porém, foi a execração daquilo que o mandatário classificou de “turismo gay”. Segundo ele, tem finalidade nobre: preservar as “famílias”. Mas, quem quiser pegar mulher, que venha para as terras aonde aportou Cabral. A barbaridade desencadeou uma pronta reação feminina nas mídias sociais. O problema maior, porém, é o absurdo partir do próprio presidente da República.
Tudo isso vai sendo dito sem freio ou receio, com o descompromisso de um palpiteiro. Exatamente como faz o torcedor na arquibancada: xinga, grita, se desespera e – sobretudo – emite opiniões despropositadas, mas inócuas, naquele contexto. Esqueceram de avisar que, na condição atual, o mandatário do Vale do Ribeira não pode se colocar como se fosse um torcedor qualquer de time de futebol, um corneteiro, conforme a gíria do futebol paulista, e ficar opinando como se não tivesse responsabilidade com nada.
O desemprego, por exemplo, está aí, como uma chaga cada vez mais viva. O que fez o novo regime até aqui? Nada, além de prometer um fantasioso paraíso liberal sabe Deus para quando. No máximo, se esquivam, dizendo que não provocaram a crise. Isso é óbvio.  Mas o que pretendem fazer para debelá-la? Até aqui, nenhum comentário, além das costumeiras generalidades.
A paralisia administrativa e a inércia gerencial, porém, vem sendo ofuscadas por declarações cada vez mais radicais. Até os militares foram alçados à condição de alvo. O vice-presidente, Hamilton Mourão, se tornou vítima das diatribes mais constantes e mais iracundas. O que há por trás disso tudo? Com certeza não é coisa boa. À primeira vista, parece o circo habitual. Mas ninguém esqueça as disposições autoritárias da turma que chegou ao poder.
Mesmo que eles governem da arquibancada, até aqui.

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