As
recentes expectativas pessimistas do “deus mercado” em relação ao desempenho da
economia brasileira não são à toa: enxerga-se o risco real de o País voltar a
enfrentar mais uma recessão. Os números ainda não são definitivos, mas a
percepção sobre a piora da situação é visível. Principalmente porque o cenário
político permanece conturbado, coalhado de incertezas. O enfático entusiasmo
ultraliberal vem, desde janeiro, sendo intercalado por arroubos populistas e
autoritários.
Tudo
indica que o primeiro trimestre de 2019 registrou declínio na atividade
econômica em relação ao trimestre anterior. E, nesse mesmo trimestre anterior,
pode ter havido recessão, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) ainda revisa números do final de 2018. Caso o declínio
permaneça no trimestre em andamento, estará caracterizada, tecnicamente, a
recessão. Para 2020, as estimativas também estão se tornando pessimistas.
Apesar
disso, os ultraliberais no poder não apresentam alternativas para o Brasil sair
do atoleiro. A fórmula deles é simples: basta aprovar a reforma da Previdência
para os empresários – daqui e de lá de fora – serem arrebatados por um frenético
entusiasmo. Com ele, jorrarão investimentos aos borbotões, reaquecendo a
atividade econômica e conduzindo, finalmente, o País ao aguardado paraíso
liberal.
Depois
serão gerados milhões de empregos – soma vertiginosa, embora os números nunca
convirjam – bastando um singelo sacrifício dos trabalhadores: abrir mão de
praticamente todos os seus direitos. Engrenando esse arranjo, o Produto Interno
Bruto – PIB crescerá muito, talvez num padrão comparável ao da China.
É
o que apregoa a turma de Paulo Guedes, o ministro da Economia. O próprio,
inclusive, ano passado, prometeu zerar o déficit público já em 2019, no calor
da campanha eleitoral. De lá para cá mudou de opinião: o déficit zero ficou
para depois de 2022. Após, portanto, o encerramento da gestão de Jair Bolsonaro
(PSL-RJ), o mandatário do Vale do Ribeira. Isso se o prognóstico se confirmar,
ressalte-se.
A
pajelança ultraliberal na economia soma-se às convicções que recendem a autoritarismo
na política. Combinadas, contribuem para que os donos do capital não tenham
coragem de coçar o bolso, os consumidores não se arvorem a contrair dívidas e o
governo, por consequência, não arrecade mais. Nesse cipoal de incertezas, quem
vai sair investindo ou se comprometendo com dívida?
Noutros
tempos, quem buscava se orientar enveredava pelas vias da razão, porque as
saídas eram racionais. Os tempos mudaram. Fé, crença, convicção se tornaram –
para alguns – relevantes variáveis econômicas. Quando isso transita do abstrato
para o mundo real, percebe-se que não pode dar certo.
E não dará, conforme
apontam os indicadores econômicos mais recentes e as projeções para o futuro.
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