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Os chineses na paisagem feirense

Anos atrás realizei uma antiga aspiração: conhecer Campina Grande, a dinâmica cidade do interior paraibano. Saí num início de manhã de João Pessoa de ônibus e, durante toda a viagem, caiu uma garoa fina que encobria os juremais. Numa poltrona próxima alguém comentou, feliz, que as chuvas daqueles dias tinham caído sobre todos os municípios paraibanos, Em Campina Grande o tempo abriu e surgiu um sol cálido. Era julho.
O desarranjo dos deslocamentos atiçou a fome logo que cheguei à cidade sertaneja. Numa incursão por uma fervilhante rua comercial – o centro das cidades nordestinas é sempre prenhe de gente, de sons, de movimento – encontrei uma pastelaria com aspecto agradável. Lá, a surpresa: o estabelecimento era tocado por diligentes chineses que mal articulavam meia-dúzia de palavras em português. Pasmo, constatei que as incursões dessa gente tinham alcançado até o pedregoso sertão paraibano.
- Todo lugar tem chinês hoje – Sempre comenta alguém, espantado.
É verdade. Discretos, silenciosos, sisudos e, muitas vezes, pouco dispostos ao diálogo com estranhos, os chineses estão presentes em boa parte das grandes metrópoles do planeta. Foram precedidos por seus produtos, que estão espalhados por todos os cantos. Nas andanças da vida, comprei em Bruxelas uma camiseta cinza made in China. E, em Montevidéu, uma vistosa sandália que parecia artigo da indústria local atravessara o planeta e viera do distante país asiático.
Afamado entreposto comercial do interior do Nordeste, a Feira de Santana, obviamente, entrou na rota do tsunami mercantil chinês. Aqui eles chegaram não apenas com seus produtos – boa parte dos feirenses recorre aos preços mais acessíveis das mercadorias daquele país – mas muitos orientais que foram se incorporando à paisagem local. Alguns – sobretudo as crianças – já exibem até o jeito espontâneo do brasileiro.
Lojas de bolsas, de artigos plásticos e de incontáveis quinquilharias já contam com rostos chineses despachando no balcão, embalando mercadoria, recebendo pagamento e providenciando troco. Quem transita pelos corredores do Feiraguai, às vezes, tem a sensação de circular pelo país asiático, tantos são os rostos orientais nos balcões de vidro. E, é claro, os chineses capitaneiam muitas pastelarias no centro da Feira de Santana.
No passado, o Brasil já acolheu levas de italianos, japoneses, espanhóis e portugueses, sobretudo nos períodos de guerras e de crises econômicas. Hoje o fenômeno é muito diferente: não há deslocamentos maciços, nem guerras, mas os fluxos são frequentes. Certamente isso vai representar um elemento singular na intensa miscigenação cultural que o Brasil experimentou, apesar dos episódios de xenofobia que, às vezes, ganham o noticiário.

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