Sorrateiramente
a Câmara dos Deputados aproveitou a pandemia da Covid-19 e os estridentes
faniquitos de Jair Bolsonaro, o “mito”, sobre o voto impresso, para aprovar uma
draconiana – mais uma! – contrarreforma trabalhista. Agora, as empresas estão
liberadas até para contratar 20% de sua mão-de-obra sem direitos trabalhistas.
Férias, décimo-terceiro salário e fundo de garantia foram abolidos. Num arroubo
de generosidade, pouparam o trabalhador dos grilhões e do chicote. Talvez fique
para a próxima contrarreforma.
Os
governistas – essa turma que apalpa polpudos contracheques – acenam com mais
empregos. Balela: essa mentira começou a ser contada no alvorecer do governo de
Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê. Seriam gerados milhões de
empregos. Os resultados estão aí, à vista de todos. O País vive batendo
recordes de desempregados e de precarização no trabalho.
A
sórdida manobra, que revogou boa parte do que restava da Consolidação das Leis
do Trabalho, a CLT, vai alvejar sobretudo os jovens com idade até 29 anos e os
trabalhadores maduros, com mais de 55 anos. Sem nenhum direito trabalhista,
terão uma remuneração de até R$ 550, o que é uma grande piada.
Com
tantos atrativos, o trabalhador que está aí à deriva vai concluir que é melhor
vender água mineral em semáforo, topar empreitadas ocasionais – o tradicional
biscate – ou simplesmente não fazer nada, porque a remuneração que se anuncia é
aviltante. O “mito” não prometeu Bolsa Família de até R$ 400? Nada desestimula
mais o trabalho que um benefício tão “alto” e um salário tão degradante.
A
mentalidade escravocrata desta gente impede-a de perceber que, quanto mais
achatarem salários, extinguirem benefícios, oprimirem quem trabalha, menores as
chances de o Brasil sair do atoleiro em que a extrema-direita o meteu. Até quem
peleja em balcão de mercadinho sabe que, com dinheiro no bolso de quem
trabalha, todos saem ganhando. É a famosa espiral virtuosa.
Daqui
a pouco começam a pipocar estatísticas anunciando incontáveis empregos gerados
– um novo e vertiginoso milagre econômico – no melhor estilo “Pra Frente,
Brasil!”. Só não explicarão para quem
a economia está crescendo, nem esmiuçarão a deplorável qualidade dos postos de
trabalho criados. Cético, o brasileiro médio verá que as ruas desmentem o
cenário róseo pintado pelas patativas do regime.
Às
vezes o sujeito até cede a uns impulsos de otimismo, imagina que este pesadelo
pode acabar logo aí na frente. Nem tanto: o monstruoso legado levará décadas
para ser revertido, caso o seja. Para que o seja, será necessário muito empenho
do brasileiro. Sobretudo do jovem, principal vítima destes tempos nefastos...
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