Pular para o conteúdo principal

Dúvidas sobre o Novo Centro

 

– Não estou pegando corrida pro centro da cidade, não. Não compensa. Só o tempo que eu fico por lá, em engarrafamento...

Quem fez o comentário foi um motorista de aplicativo. Isso numa manhã chuvosa de julho, a Feira de Santana enlameada. Segundo ele, o problema vai persistir depois da conclusão das obras. Afinal, haverá estreitamento das pistas, as calçadas estão sendo alargadas. E o volume de veículos, obviamente, não vai diminuir.

– Não sei como vai ficar, não... – Acrescentou, desolado.

Todos notam que as obras estão avançando. A princípio, o centro vai ficar muito mais amigável para o pedestre, pois as calçadas são largas e, pelo que se comenta, camelôs e ambulantes foram definitivamente desterrados para as cercanias do Centro de Abastecimento. Sobrará espaço para tranquilas caminhadas. Algo semelhante àquilo que está acontecendo em Salvador, cujo Centro Antigo está sendo revitalizado.

Uma questão que veio à tona no papo com o motorista de aplicativo, porém, inquieta. O centro de Salvador – aquela porção localizada na Cidade Alta – equilibra-se sobre a falésia e vai se espraiando em direção aos vales que pontuam na capital. Lá, o Centro Antigo aparta-se do circuito das grandes avenidas por onde flui o trânsito. Só vai até lá quem tem algum negócio, algum interesse. Ninguém atravessa o centro de Salvador em direção a outros destinos.

O Centro da Feira de Santana é diferente. Radio-concêntrico – a expressão é dos urbanistas – ele atrai o fluxo dos bairros, das cidades circunvizinhas, por ele transita até quem está só de passagem, vindo do sertão com destino a Salvador. A avenida Senhor dos Passos, até recentemente, cumpria essa função, inclusive em relação ao trânsito de ônibus intermunicipais.  A mudança pode produzir engarrafamentos insanos, caso não surjam alternativas.

– Como vai ficar isso?

Quem indagou foi o mesmo motorista por aplicativo. Obviamente, não disponho de resposta. Mas fiquei conjecturando, matutando possibilidades. Quem está só de passagem vai ter que enfrentar o já caótico Anel de Contorno? Ou será pensada uma solução alternativa pelas próprias vias centrais da Feira de Santana? Estas mudanças não afetarão o vaivém de quem vem comprar, recorrer aos serviços aqui na Feira de Santana? Não consegui encontrar respostas.

São indagações que muita gente vem se fazendo pela Feira de Santana, sem respostas objetivas até aqui. Por enquanto, há a pandemia, o afã pela vacina, a expectativa de que as mortes cessem e a vida volte ao normal num intervalo curto, porque já se vão quase 17 meses de martírio. Mas imagino que, mais à frente, estas questões virão, inevitavelmente, à tona.

Calculo que já haja respostas, embora as dúvidas e indagações sejam muito frequentes pelas ruas feirenses.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...