Nestes
estranhos dias pandêmicos, o ocasional som contagiante de um forró resgata a
lembrança de que o São João está se aproximando. Falta pouco mais de um mês. Só
que, mais uma vez, as tradicionais festas serão canceladas – sensatamente –
porque a pandemia da Covid-19 permanece aí, à espreita. Governantes e
especialistas que acompanham os movimentos do vírus, inclusive, estão atentos
aos riscos de uma terceira onda já nas próximas semanas.
Isso
não impede, porém, que o som da sanfona ouvido por acaso desperte recordações
de celebrações juninas passadas, quando ninguém sonhava com a pandemia. Afinal,
o forró já reverbera a partir dos sons potentes dos automóveis, nos bares e
restaurantes espalhados pela cidade, aos finais de semana, nas residências de
quem é devoto festeiro do período junino.
No
sábado (15), apesar do céu cinza, a alegria pulsava, sonora, espalhando-se com
o vento que as garoas recentes esfriaram. Ouviam-se o festejado forró
pé-de-serra, os baiões de Luiz Gonzaga, o xote e o xaxado que embalam a alma
nordestina. Pelos bares abertos do centro da cidade, o entusiasmo – até
imprudente – com o São João era quase palpável nos sorrisos, nos gestos largos,
nos papos empolgados.
Nas
padarias e supermercados já se veem os produtos típicos do São João. Os
tradicionais licores – multicoloridos – ocupam espaços nobres nas prateleiras:
amendoim, gengibre, maracujá, até café ou tamarindo. Não faltam também os bolos
– fubá, carimã, aipim –, nem o milho e o amendoim, indispensáveis para quem
pretende manter a tradição. Mesmo quem chega distraído, com tantas ofertas,
acaba se envolvendo com o clima do período.
Mas,
apesar do entusiasmo natural do nordestino, a pandemia permanece aí e não dá
trégua. Além de não haver festa – aglomerações seriam catastróficas – a
mobilidade do baiano pelo estado vai ficar comprometida com a suspensão do
transporte intermunicipal de passageiros. Apesar dos evidentes prejuízos, é
mais uma medida sensata do governador Rui Costa (PT).
O
calvário da Covid-19 tem sido longo e, infelizmente, ainda vai se estender por
muitos meses, pelo menos. Os números da doença estão aí confirmando os
prognósticos mais sombrios dos especialistas. Então, apesar dos apelos do São
Antônio, do São João, do São Pedro, as celebrações são arriscadíssimas. O jeito
é ficar em casa, aguardando a vacinação em massa.
Países
que não são governados por aloprados já aplicaram vacinas em boa parte da
população e, aos poucos, começam a retomar a rotina. Aqui, como se sabe,
prevaleceram o obscurantismo e o delírio. Os resultados estão aí, sendo
sistematizados em uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI no Senado.
Os
forrós resgatam lembranças de tempos felizes. Mas, infelizmente, hoje, o
nordestino tem que se contentar com as recordações, manter a disciplina e
evitar aglomerações. Tudo isso para que possa, ano que vem, de fato aproveitar
o São João.
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