Dizem
os filósofos da política baiana que a Lavagem do Bonfim é o primeiro termômetro
em ano de eleição. Na caminhada de oito quilômetros entre as igrejas da
Conceição da Praia e do Bonfim, normalmente sob o sol escaldante dos finais de
manhã de verão, os pré-candidatos testam a popularidade distribuindo sorrisos,
apertando mãos, envolvendo o eleitorado em largos abraços e, em alguns casos,
ouvindo vaias e apupos de eleitores insatisfeitos. O mais comum, no entanto, é
o abraço entusiasmado de quem promete marchar com o candidato da vez.
Cordato por
natureza, o povo baiano não é muito dado às manifestações de insatisfação.
Essas não costumam ser frequentes: a mais recente delas já tem uns três anos e
envolveu o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro e só repercutiu junto à
imprensa porque o alcaide da capital, de forma surpreendente, abandonou o
cortejo depois de ser vaiado por populares. À época, pra variar, atribuiu os
apupos à militância de oposição.
Sorrisos e
afagos, porém, não são os indicadores mais confiáveis de popularidade. Afinal,
esses gestos de simpatia são distribuídos à mancheia. O que quase sempre
sinaliza o cacife eleitoral de um candidato é o tamanho do cortejo que o cerca.
Invariavelmente, quem comunga dos ideais governistas larga com ampla vantagem. Em
2012, no entanto, o tamanho da ala governista impressionou mesmo com essa
antiga tradição adesista baiana.
Salvo por uma
meia-dúzia de renitentes que se aninharam sob os enormes balões dos partidos oposicionistas,
o que se viu foi um apoteótico cortejo governista, amealhando políticos outrora
de todos os matizes; parcerias indizíveis há um par de anos; e o esforço
frenético dos músicos das charangas tentando tocar para todos os gostos.
Profusão de Legendas
Se os sinais
emitidos na Lavagem do Bonfim se confirmarem quando as urnas forem abertas em
outubro, o bloco governista terá dado um confortável passeio: a complexa, ampla
e engenhosa costura política terá assegurado mais de 300 prefeituras ao grupo
hegemônico. Nada, porém, de muito novo na recente história política da Bahia,
já que foi o extinto PFL que iniciou, com suas camisas listradas, essa
tradição.
O que há de
novo, no entanto, é a concertação política que pulverizou o domínio sobre as
prefeituras baianas, antes restrito basicamente ao extinto PFL, que migrou para
a oposição rebatizado como DEM. Hoje, além do hegemônico PT, desfilam o recente
PSD, o PP e o não solidamente oposicionista PMDB, além de legendas satélites
como o PTB, o PSB, o PDT, o PC do B e o PSDB. Apenas na terceira divisão
aparece o DEM, outrora todo-poderoso PFL, esvaziado pela “vocação” governista
dos seus quadros.
Essa profusão
de siglas que digladiam pelo controle das 417 prefeituras baianas deve ser
vista com otimismo, em que pesem todos os problemas decorrentes da anarquia
ideológica que tem caracterizado essas legendas. É que, pela segunda vez em
eleições municipais, a Bahia vai às urnas sem a sombra coronelista que
ameaçava, constrangia e sujeitava o cenário político local.
Mais Democracia
A pulverização
do poder municipal entre diversas legendas – mesmo que falte consistência à
maior parte delas – é benéfica para a democracia e para a sociedade. Primeiro
porque lipoaspira o poder dos déspotas de plantão; segundo porque,
inevitavelmente, surgem mais alternativas eleitorais, o que é favorável à
disseminação de novas ideias; e, terceiro, há a tendência da incorporação de
novos atores institucionais no cenário político, como organizações
não-governamentais e movimentos sociais. Em suma, todos ganham com mais
democracia.
Na Feira de
Santana, por exemplo, estão colocadas quatro legendas no tabuleiro político com
candidatos competitivos: o PDT do prefeito Tarcízio Pimenta, o DEM do
ex-prefeito José Ronaldo de Carvalho, o PT do deputado estadual José Neto e o
PMDB do ex-deputado Colbert Martins. A rigor, todos tem chances de vencer as
eleições ou, pelo menos, influir no processo.
Esse cenário
possibilita ao eleitor feirense avaliar melhor os nomes que se colocam para a
prefeitura e escolher aquele que atenda melhor às suas expectativas. Bem mais
democrático que nos tempos em que o dedo d’algum ditador apontava para o seu
preferido e, depois, a máquina governamental e o silêncio constrangedor de
parte da imprensa faziam o resto...
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