Pular para o conteúdo principal

Feira no macabro Top 10 mundial dos homicídios em 2020

 

Muita gente ficou indignada na Feira de Santana com a divulgação de um ranking que coloca o município como o mais violento do Brasil e o nono mais violento do mundo em 2020. Isso em relação aos homicídios. A pesquisa – realizada anualmente – é de uma organização não-governamental mexicana, o Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal.

Esta instituição emprega, como recorte metodológico, municípios com mais de 300 mil habitantes. Os dados utilizados, no caso dos municípios baianos, são os que a Secretaria de Segurança Pública disponibiliza em seu site para acesso público. A partir dessas informações, calcula-se a taxa de homicídios por 100 mil habitantes.

Li e ouvi muitos “metodólogos” de plantão questionando a metodologia. Com base em quê? No mesmo “achismo” largamente empregado em papo de botequim. Há quem creia que Iraque e Afeganistão são mais letais; uma simples simpatia por algum lugar justifica contestações ao levantamento; outros fincam pé numa espécie de fé, numa crença que, se estão vivos, é sinal de que as coisas não são tão ruins assim. 

Esse inconformismo espanta: quem acompanha o noticiário sabe que aqui se mata em escala industrial. Todo dia tem corpo estendido no chão. E, em anos anteriores, o município já vinha se destacando no mesmo triste ranking. A catástrofe, a propósito, nem recente é: remonta ao começo do século XXI, quando a quantidade de assassinatos cresceu de maneira assustadora. Em alguns anos – sobretudo naqueles em que policiais militares se amotinaram – a elevação foi vertiginosa.

Aqui – aponta o levantamento – a taxa de homicídios por 100 mil habitantes alcançou impressionantes 67,46. Mais que Vitória da Conquista (52,47) e Salvador (46,80). Na capital baiana, aliás, até se refreou um pouco a sanha assassina em 2020. Junto com a Feira de Santana, sete cidades mexicanas figuram no macabro Top 10 dos recordistas de homicídios no ano passado.

No triste Brasil dos dias atuais, tudo vira gincana. Uns torcem contra, outros a favor. Uns celebram, outros se lamentam. Talvez seja mais recomendável encarar os fatos de maneira adulta e reconhecer que, aqui, se mata muito e o tempo todo. A partir daí, pensar no elementar: como reduzir a avalanche de homicídios? Aí já é necessário pensar políticas públicas que produzam resultados, que sejam efetivas. Porque políticas, evidentemente, há; os resultados é que são catastroficamente insatisfatórios.

Talvez isso seja exigir demais do Brasil dos múltiplos genocídios que se veem aí no noticiário. Desde sempre, morre assassinado o preto pobre, jovem, da favela ou da periferia, supostamente envolvido com o crime. Esse genocídio sempre foi aclamado pelo “cidadão de bem”. Agora, há na praça o genocídio da Covid-19, que não necessariamente escolhe vítima. Mas, mesmo assim, o “cidadão de bem” permanece indiferente.

Realmente, é exigir demais do triste Brasil dos dias atuais...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da