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Auxílio emergencial não compra nem a cesta básica em Feira

 

As lotéricas voltaram a ficar cheias na Feira de Santana. Imagino que por conta do pagamento do auxílio emergencial, que foi suspenso durante três meses. Em meio aos volantes da Loteca, da Lotofácil e dos banners que anunciam prêmios milionários da Mega-Sena, muita gente suspira, espicha o olhar, percorrendo os guichês de vidros baços e as paredes repletas de tabuletas e cartazes. No que pensam? Certamente nas agruras para sobreviver na pandemia e, também, à própria pandemia.

Implacável com os mais pobres, o governo de Jair Bolsonaro, o “mito”, reduziu o auxílio a valores simbólicos: R$ 150 a R$ 375. Houve redução também no número de famílias beneficiárias. Os R$ 150 são para quem mora só; os R$ 375 para mulheres que chefiam família. Valores bem distantes dos R$ 600 e R$ 1.200 pagos ano passado, por conta de pressões do Congresso Nacional naquele momento.

Quem recebe o maior valor não vai conseguir comprar nem uma cesta básica: em março, aqui na Feira de Santana, a cesta básica custava R$ 415,27. O valor oscilou 0,22% em relação ao mês anterior. Só o preço estimado da carne – 4,5 quilos para o mês – alcança R$ 125,24. Os dados são do Programa Cesta Básica, do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCIS) da Universidade Estadual de Feira de Santana, a Uefs.

Não é à toa que o brasileiro médio está abandonando o consumo de carne. O frango – para os mais afortunados – e o ovo surgem como substitutos. Mas isso é para uma parcela que, em certa medida, figura como privilegiada: muitos brasileiros – e feirenses – estão enfrentando agruras é para conseguir comer todos os dias, independente do cardápio. O valor simbólico pago pelo governo do “mito” – estão previstas apenas quatro parcelas – está muito aquém das necessidades.

Além do preço da comida, há a catástrofe do preço do botijão de gás. A extrema-direita chegou ao poder com arrogância, prometendo baixar o preço do gás pela metade. O que se viu foi o oposto: os sucessivos aumentos elevaram o valor do botijão para quase R$ 80 – com a entrega – aqui na Feira de Santana. Nas capitais, sai mais caro. É duro o dilema do pobre: compra a comida ou o botijão de gás?

Enquanto essas tragédias se desenrolam pelas cidades, em Brasília joga-se muito sujo em nome do poder. Mas poder em nome do quê e para quê? É uma indagação que os mais lúcidos – parece que não são tantos assim – ficam se fazendo o tempo todo.

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