Em
tempos normais, abril costuma ser o fevereiro do feirense.
Em
Salvador, o ciclo de festas populares emenda-se com o Carnaval nos verões de sons,
luzes e cores sempre cinematográficos da capital baiana. Em fevereiro, o
soteropolitano vive o apogeu do calendário. O mês desperta até suas disposições
cosmopolitas, com a chegada de levas de turistas estrangeiros. Além, claro, das
legiões de paulistas, mineiros, goianos e gaúchos. Tudo é festa na antiga
Cidade da Bahia.
Aqui
na Feira de Santana, em abril, o feirense engata também uma sequência de datas
especiais que o tornam mais efusivo. Não há turistas, mas há uma energia
similar no ar. Na época, as vozes e os risos têm até um quê de Recôncavo, de
Baía de Todos os Santos. Abandona-se aquela circunspecção, o silêncio e a
sisudez comuns ao sertanejo.
Tudo
começa com a Semana Santa e suas tradições católicas. Apesar da solenidade do
período – celebra-se a morte e a ressurreição de Jesus Cristo – há ânimo no
preparo dos pratos típicos da Sexta-feira da Paixão, alegria com as mesas
fartas, com as refeições compartilhados com familiares e amigos. O ciclo se
fecha logo na sequência, com o Sábado de Aleluia, com o Domingo de Páscoa.
Vê-se, novamente, a alegria, o riso, a efusão.
Depois
vem a Micareta que, no passado, despertava altas expectativas. Era o Carnaval
do feirense e dos foliões que se mobilizavam nas cidades vizinhas. Vinha gente
até de Salvador. Na festa, as mesmas atrações da capital, o mesmo ânimo, uma
multidão que fervilhava no circuito iluminado, uma lufa-lufa econômica similar,
mesmo não movimentando os mesmos montantes.
Após
o último beijo, depois do último gole de cerveja – o uísque é restrito aos
abastados nos camarotes – e, já com o sabor metálico da ressaca na boca, reluzia
a lembrança de que, mais à frente, começam as comemorações juninas. A expectativa
dos forrós vindouros, do arrasta-pé, dos pratos típicos da época, embalava
feirenses na volta para casa.
Por
que essa recordação agora, no meio do abril tingindo de luto pela pandemia? É
que passou meio despercebido, mas provavelmente a Micareta seria na próxima
semana, na sequência do feriado de 21 de abril. Os quatro dias – nos bons
tempos, décadas atrás, eram cinco – iam se estender, redobrando o ânimo dos
foliões.
Mas,
como todo mundo sabe, a pandemia da Covid-19 inviabilizou a Micareta na Feira
de Santana pelo segundo ano consecutivo. Tomara que, ano que vem, a folia
retorne. Mas, para isso, é necessário que o desgoverno da morte, lá em
Brasília, se mexa e providencie vacina e vacinação para todos os brasileiros.
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