Há
uma sibipiruna em flor e fruto aqui sob a minha janela. Deu trabalho, mas
pesquisando na internet descobri o nome correto da árvore. Ignorante, cheguei a
confundi-la com as catingueiras vizinhas. Cientificamente, é a Caesalpinia peltophoroides. Mas há nomes
populares, muito mais simpáticos: sibira ou coração-de-negro. Num site
especializado em plantas e jardins, me informo que “a floração ocorre de
setembro a novembro, com as flores amarelas dispostas em cachos cônicos e
eretos”.
Vejo
também os frutos e obtenho mais detalhes no mesmo site: “Os frutos, que surgem
após a floração, são de cor bege-claro, achatados, medem cerca de 3 cm de comprimento
e permanecem na árvore até março”. Pois é: eles estão aí e devem permanecer até
o começo de abril. Espantado, descubro que a sibipiruna pode viver 100 anos e
alcançar até 18 metros de altura.
Ainda
bem que a árvore é jovem e sua altura ainda não vai além da copa das
catingueiras próximas. Assim, aqui do alto, posso apreciar sua forma
arredondada, bem recortada, e as flores amarelas – a cor é vivíssima – que se
distribuem pelos seus galhos. E os frutos beges também, num belíssimo contraste.
Mas
confesso que há um quê de egoísmo nesta contemplação: caso a sibipiruna se
espichasse aqui defronte à janela, bloquearia a visão da Feira de Santana que
me entretém desde o começo destes tempos pandêmicos.
Daqui
avisto o casario da Queimadinha alargando-se no aclive suave que conduz à lagoa
do Prato Raso, verde-vívida à distância, sobretudo nas manhãs ensolaradas. Vejo
também as fachadas do centro da cidade, as antenas que à noite piscam luzes
vermelhas, melancólicas, e aquilo que batizei de vale que conduz ao rio Jacuípe
e à BR 116 Sul.
À
noite ou nos intervalos do trabalho, dedico-me a descobrir novos detalhes da
paisagem feirense. Com a copa da sibipiruna à minha frente, ia ficar difícil.
Noto até – a muita distância – que as barrancas do vale do Jacuípe estão
ressequidas, perderam o verde legado pelo chuvoso 2020. Mas isso já é
especulação de quem está longe: só quem passa por lá é que pode confirmar a
sensação.
Nestas
manhãs ensolaradas do começo do outono, percebo que a sibipiruna em flor e
fruto também é palco da luta pela vida: dezenas de besouros arredondados,
escuros, pousam e se afastam das flores e frutos, naquele seu voo suave, mas mecânico;
em volta, bem-te-vis arrojam-se em voos rasantes, tentando arrebatá-los, nem
sempre com sucesso.
É
a sabedoria da natureza, da cadeia alimentar. Nela, mesmo quando se vê a morte,
é por uma afirmação da vida. É algo que areja, dá esperança e força para
resistir ao horror genocida diuturno no noticiário...
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