Os
brasileiros começaram 2017 estarrecidos com dois bestiais episódios de
violência que afastaram do noticiário até mesmo a longa crise econômica. O
primeiro foi em Campinas, no interior de São Paulo: um elemento matou o filho,
a ex-mulher e mais 10 pessoas – a maioria mulheres – e depois se suicidou; em
Manaus, uma guerra entre facções resultou em 56 mortes dentro de uma unidade penal
e na fuga de centenas de presos. Pela escala, ainda representam exceções, mas
ajustam-se ao contexto das violências crescentes no País e à banalização dos
assassinatos.
Feira
de Santana também detém uma barbárie doméstica para ostentar: ontem, no bairro
Mangabeira, supostamente movido por ciúmes, um homem incendiou a própria
residência. Nela, morreram cinco pessoas, inclusive crianças. Duas pessoas –
uma delas criança – escaparam e foram hospitalizadas. Ou seja: na cidade, o ano
começa com uma terrível chacina.
Também
nessa semana, foi divulgado o balanço dos homicídios ao longo de 2016. O saldo é
assustador: pelo menos 358 assassinatos e 17 latrocínios. O avanço em relação
ao ano anterior, 2015, beirou os 30%. O que se manteve inalterado foi a “geografia
da morte”: bairros como Aviário, Conceição, Mangabeira, Campo Limpo e George
Américo, bolsões de pobreza, figuram entre os mais violentos.
Quem
mais morre nesses lugares, como sempre, são os jovens e os negros. Ou os jovens
negros, traçando um perfil mais exato. Boa parte dos assassinatos permanece
como incógnita. Há, todavia, referências aos conflitos entre facções – aquelas
quadrilhas mais estruturadas, com funcionamento orgânico -, mas não se sabe em
que medida esses confrontos influenciam nas estatísticas.
Aliás,
a escalada de violência que aflige a Bahia há mais de uma década sempre é
explicada com alusões genéricas. Durante anos, por exemplo, cultivou-se a
crença que o tráfico e o consumo de crack eram os responsáveis por tantas
mortes. Hoje é visível que o número de usuários declinou, mas os homicídios
seguem em patamares assustadores. Agora, as facções são colocadas como
explicação.
Há
anos as quadrilhas locais pichavam paredes e muros com suas iniciais,
demarcando território. Mais recentemente, são as facções que recorrem a esse
expediente. Maiores, mais estruturados e dispersos espacialmente, esses grupos
representam o aperfeiçoamento daquelas pequenas quadrilhas que foram
incorporadas à lógica do tráfico de drogas como negócio altamente rentável.
Assim
como em Manaus, aqui houve uma rebelião sangrenta com mais de uma dezena de
mortes. Nove aconteceram no presídio e as demais ocorreram como desdobramento
daquele motim. Inúmeras providências foram anunciadas à época, em 2015, mas não
se sabe se alguma coisa mudou.
O
fato é que 2017 começou trágico pelo Brasil e também aqui na Feira de Santana,
que tristemente tem uma tragédia particular para exibir. Coincidência – ou não
– a violência recrudesce num contexto de intolerância crescente na sociedade,
decorrente da aguda crise política; e alavancada pela maior crise econômica das
últimas décadas que, naturalmente, vem contribuindo para a descrença e a
disseminação do ódio.
Sem dúvidas, o ano
começa funesto.
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