Dezembro foi o pior mês
da história do mercado de trabalho na Feira de Santana. Em trinta dias,
evaporaram precisos 1.031 postos formais. O número é oficial, do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE). No período, houve 23 dias úteis, descartando os
sábados. Logo, o saldo foi negativo em 44,8 empregos diários; considerando as
oito horas diárias da jornada de trabalho, houve assustadoras 5,6 demissões
líquidas – o saldo entre admissões e demissões – a cada hora de trabalho.
Qualitativamente, o mês
foi implacável com o trabalhador: o desemprego se irradiou pelos mais diversos
setores, alvejando um leque amplo de funções. Mas os mais prejudicados foram os
serventes de obra (-115 postos) e os pedreiros (-82 empregos), mostrando que a
crise devora, voraz, as oportunidades na outrora festejada construção civil.
Mas outros segmentos
também foram afetados: 73 operadores de telemarketing perderam suas ocupações;
e o comércio varejista – que naquele mês costuma contratar – registrou saldo
negativo de 62 empregos. Nem mesmo os motoristas de caminhão escaparam: no
ramo, o saldo líquido foi negativo em 47 postos.
Desde que a
avassaladora crise econômica começou, em meados de 2014, nenhum mês registrou
tamanha retração quanto dezembro. Os recordes anteriores em 2016 pertenciam aos
meses de maio (-883) e julho (-870). No geral, a retração ano passado totalizou
saldo negativo de 6.002 vagas. Perdeu para 2015 (com 6,5 mil empregos
extintos), mas supera, em muito, 2014, quando houve 914 demissões a mais que
admissões.
E
2017?
As perspectivas para
2017, hoje, são muito menos promissoras do que foram no passado. Organismos
multilaterais, instituições financeiras, entidades empresariais e os próprios
técnicos do governo preveem que o desemprego deve continuar crescendo, pelo
menos, até o mês de junho. E apostam também que a retomada posterior deve ser
bastante lenta.
Isso em função do
modesto crescimento previsto para o Produto Interno Bruto – PIB. A mais
desalentadora das estimativas é a do Fundo Monetário Internacional, o FMI:
ínfimos 0,2% para 2017; e irrisórios 0,5% para o próximo ano. No mercado
financeiro há mais “otimismo”: expansão entre 0,5% e 1% esse ano. Serão dois “pibinhos”,
conforme a expressão consagrada por Dilma Rousseff (PT), ela própria czarina de
magros desempenhos do PIB.
Muitos brasileiros – e
feirenses – vão passar os próximos anos se virando como autônomos, abrindo
pequenos negócios, encarando empreitadas temporárias, fazendo biscates ou encorpando
o já disforme comércio informal. A renda, claro, tende a declinar; e quem
permanecer no mercado formal também será afetado, já que a exaltada reforma
trabalhista deverá reduzir direitos e ampliar a precariedade.
Seria ótimo olhar para
diante e constatar que o pior já passou. Mas não é bem assim que o futuro se
desenha. A – até aqui, hipotética – lenta recuperação é parte do baque da crise
e deve se arrastar pelos próximos anos; e as propaladas reformas estruturais
devem penalizar ainda mais os trabalhadores, precarizando suas condições de
trabalho. Lastimavelmente outros dezembros, como o que passou, não estão
descartados.
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