As
trovoadas seguem escassas no Brasil Setentrional, particularmente na porção
semiárida, que amarga o quinto ano de seca, conforme afirmam os
meteorologistas. As estimativas também não são lá muito otimistas: prevê-se
que, em 2017, as chuvas não serão muito intensas, apesar do ciclo do El Niño
ter findado ano passado. Estudos apontam que o fenômeno é o mais agudo em um
século, superando estiagens severas, como a que se estendeu de 1979 até 1983.
A
seca – que comprime a renda do setor agropecuário, afetando, sobretudo, os
pequenos produtores – soma-se à voraz crise econômica, potencializando os
efeitos nocivos sobre a frágil economia da região. Os prejuízos acumulados com
os rebanhos dizimados e a constante perda das safras somam bilhões de reais.
As
esperanças vão se manter vivas pelo menos até 19 março, data consagrada a São
José. Na sabedoria popular, esse dia é determinante para que o inverno chegue –
chuvas intensas ou trovoadas –, permitindo uma boa safra. Pouco depois disso,
caso chova, as precipitações se limitam à garoa que apenas ajuda a manter a
vegetação agreste verde.
Desde
dezembro que as nuvens se avolumam, o horizonte ganha aquele ar acinzentado das
tempestades, mas chuvas mais intensas – e frequentes – não caem. Um ou outro
trovão ocasional desperta o saudosismo dos “anos bons”, de chuva farta.
O
Centro de Abastecimento é um ambiente privilegiado para se investigar os
efeitos da prolongada estiagem. Com dinheiro curto, quem vem da roça compra
pouco, normalmente só o essencial; Quem vende lucra menos e investe menos em
estoque; por fim, quem fornece também padece, às vezes até retraindo a
produção.
O
impacto não se restringe ao Centro de Abastecimento: as artérias de comércio
popular no centro da cidade também se ressentem com a seca, além dos efeitos da
crise, claro. A roupa barata, o sapato com preço em conta, a ferramenta para a
lida na roça, o prato feito e os utensílios domésticos são menos requisitados
quando o real no bolso do tabaréu escasseia.
O
quadro só não é de descalabro em função dos avanços sociais da última década. O
Bolsa Família, a aposentadoria rural, o benefício social para os idosos e
deficientes vem sendo essenciais para atenuar os efeitos da estiagem rigorosa. Afinal,
diminuiu a dependência dos pequenos produtores das safras incertas.
Michel
Temer, o controverso mandatário, a propósito, esteve nas Alagoas e disse que
gostaria de ser lembrado como o maior “presidente nordestino”. Nem precisava do
arroubo retórico: caso ele não comprima nem revogue esses escassos direitos, a
coisa já fica de bom tamanho. Não é, no entanto, o que se desenha.
Com
frequência, comentamos que falta ao Nordeste – e a outras regiões menos
dinâmicas do Brasil – um plano de desenvolvimento. Durante mais de uma década
no poder o Partido dos Trabalhadores (PT) não investiu nessa ideia. A ascensão
de Michel Temer sepulta de vez essa ambição, pelo menos no médio prazo.
Por enquanto, temos que
aguardar as tempestades caprichosas que teimam em não cair.
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