Pouca gente
deve saber, mas há quase um século a Feira de Santana sagrava-se campeã de um
torneio de futebol intermunicipal. As páginas do Jornal A Flor – que circulou
na primeira metade do século passado aqui no município – registraram a façanha
da seleção local, lá nos primórdios do futebol na Bahia. A Fundação Senhor dos
Passos resgatou a publicação, que ganhou versão impressa recentemente.
O texto
sobre o troféu está nas páginas dois e três da edição 33, do domingo, 18 de
dezembro de 1921. São quase 98 anos, portanto. A matéria realça que a equipe
foi recebida com festa: “Da capital, chegaram aqui em o regular das 9 horas, na
segunda-feira, a nossa embaixada com os denodados campeões, que tão
brilhantemente souberam pelejar, no campo da Graça, para conquistar a victoria entre
nove adversários”.
O campo da
Graça foi o primeiro estádio da capital. Por lá, passou até a Seleção
Brasileira. No torneio que consagrou os feirenses, Ilhéus, Castro Alves e
Cachoeira eliminaram Santo Amaro, São Félix e São Gonçalo dos Campos. Feira
encarou Muritiba e saiu vitoriosa: “Após o tempo determinado, sahio vencedora a
nossa equipe com o ‘scor’ de 1x0. A assistência vibra de enthusiasmo”.
Depois veio a
confusão: “Chegaram ao certame três cidades inclusive Itaparica, que foi
chegando naquelle momento”. Isso depois da primeira rodada: a publicação
critica a desorganização do evento e a intervenção do “Dr. Medeiros Netto”, que
apresentou uma solução: Feira enfrentaria Itaparica, “enquanto o quadro de
Ilheos descansava à vontade”, conforme reclamação registrada em A Flor.
Os feirenses
atropelaram os adversários da ilha: “Iniciou-se o jogo, e os nossos jogadores
agiram com calma e perícia, levando brilhantemente de vencida o ‘team’ de
Itaparica, com o ‘score’ de 3x1”. O resultado credenciou o time feirense a
enfrentar Ilhéus na final, sob intensa expectativa.
Começou,
enfim, a decisão e, na “sensacional peleja”, os ilheeenses atacaram “durante o
primeiro tempo, às tontas, sem combinação”. A atuação da defensa feirense foi
exaltada: “Agio com precisão, defendendo admiravelmente os pelotaços
adversários”.
No segundo
tempo veio a reação feirense: “Os nossos pebolistas não desmentiram a fama que
gosavam”. O redator entusiasmou-se tanto que não mencionou o placar – deduz-se,
pelo texto, que ficou no um a zero, com gol de pênalti – e nem o autor do gol
do título. Mas não poupou referências à comemoração: “Após poucos minutos,
terminou a tradicional peleja, ficando o “scratch’ feirense com o título de
campeão, e a penalidade que nos deu o triunpho, fulgurante e viva, defendida
heroicamente pelos nossos players da gana fervorosa do scratch de Ilheos que
lutou com um esforço titânico”.
Quem foram
os heróis da conquista? A publicação faz referência a Jonga, “nosso admirável
ponta-esquerda”, além dos defensores Luizinho e Zeca, classificados como
“heroes”. Outros protagonistas do feito quase centenário: “Diógenes, Dudu, 69 e
Dôta”.
Naqueles tempos distantes de cidade miúda, o
feito do “scratch” feirense certamente rendeu muitos comentários pelas
esquinas, na feira-livre da segunda-feira, nos dias que antecederam o Natal.
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