- Bolsonaro
calado é um poeta.
A frase trafega
pelos comentários das mídias sociais com desenvoltura. Não é original, mas
define com rara felicidade quem é o atual mandatário do Brasil, o controverso
Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Bastam umas poucas horas para irem se avolumando
frases bizarras, algumas delas inacreditáveis. Caso, de fato, permanecesse
calado, causaria menos danos ao próprio governo. Um hipotético compilador de
matéria-prima para um novo “Febeapá” – o Festival de Besteiras que Assola o
País, do brilhante jornalista Sérgio Porto – acumularia muito conteúdo nos
últimos dias.
A trágica e
inexplicável morte de um músico negro no Rio de Janeiro – foram 80 tiros
disparados por integrantes do Exército no carro em que ele se deslocava com a
família – virou “incidente”, nas palavras do mandatário do Vale do Ribeira. Com
direito a arremate com uma pérola: “O Exército não matou ninguém”.
A valentia
que sobra para afrontar certos segmentos faltou na lida com os caminhoneiros.
Bastou ameaçarem uma greve para o governo fazer a Petrobrás recuar na decisão
de majorar o diesel em 5,7%. Decepcionante para quem batia no peito e se dizia
liberal, privatista, anti-intervencionista. A seu jeito, Bolsonaro eximiu-se de
sua responsabilidade: “Falei que não entendia de economia”.
Horas antes,
disparou contra os indígenas, que figuram entre suas vítimas preferenciais:
“Haverá um encontrão de índio” e, segundo ele, o contribuinte é que arcará com
os custos do evento. A frase infeliz – digna de frequentador de botequim – é
inadmissível, sobretudo partindo de quem se elegeu presidente da República.
Muitos
acreditam que essas frases lastimáveis são jogo de cena para desviar a atenção
do descalabro administrativo inaugurado em janeiro. O pior é que podem estar
enganados: os ocupantes do Planalto parecem tão incompetentes que, talvez,
sejam incapazes até de arquitetar essas manobras. Mesmo que, eventualmente,
orientados. Logo, o cenário talvez seja ainda mais desolador.
Sem dúvida,
não falta quem ainda acredite que o governo vai se ajeitar, que os tropeções
iniciais vão se espaçar doravante, que a festejada agenda liberal na economia e
conservadora nos costumes vai avançar. Muitos integram as matilhas digitais,
furibundas, que entornam ódio nas badaladas mídias sociais.
A disposição
que sobra nos ambientes virtuais, porém, não se traduz em ânimo para as ações
concretas em defesa do governo. É o que piora a situação do bolsonarismo, pois
falta quem o defenda nas ruas. Os acólitos, pelo jeito, só têm coragem de se
manifestar na comodidade dos ambientes virtuais.
Repete-se nesse espaço, há dias, que as
barbaridades seguirão acontecendo. Para isso, basta o suceder dos dias. Só que
o brasileiro – incluindo aquele que esperava mudança e que só não sabia que
seria para pior – começa a se cansar. Estão aí as pesquisas de opinião para
comprovar. Resta saber no que pode dar esse caldo que, aos poucos, começa a
levar fervura...
Comentários
Postar um comentário