A essas alturas, muitos
feirenses estão pensando em viajar para aproveitar o feriadão de Carnaval, seja
se esbaldando nos circuitos da folia, seja descansando nalguma praia ou
desfrutando das belezas da Chapada Diamantina, por exemplo. Há quem defenda que
o ano, efetivamente, só começa depois do Carnaval. O fato é que ao longo dessa
semana o brasileiro esquece as agruras e entrega-se, sôfrego, à trégua que só
vai findar na Quarta-feira de Cinzas.
Em 2017, porém, a
trégua é relativa. É que segue andando a toda, na Câmara dos Deputados, a
famigerada reforma da Previdência que deve, nas próximas décadas, tornar o
acesso à aposentadoria privilégio de poucos. Espinhosa e complexa, a reforma
avança célere para atender aos anseios do “deus mercado” e, mais
especificamente, dos fundos de Previdência privados.
Ninguém se iluda: a
empulhação veiculada como propaganda na tevê não tem o propósito de garantir
aposentadoria de ninguém lá no futuro. O objetivo é tornar o acesso à
Previdência pública tão precário, que os brasileiros serão forçados a recorrer aos
controversos fundos privados para viver a velhice com um mínimo de dignidade.
Isso se estes fundos não falirem até lá, como já ocorreu no Brasil.
O mesmo ardil foi
empregado, com sucesso, na pretensa reforma do Ensino Médio: como não dá para,
simplesmente, revogar o sistema de cotas nas universidades públicas,
fragiliza-se o Ensino Médio, fragmentando o conteúdo e reduzindo, num intervalo
curto, as chances de quem está na rede pública de ser aprovado no vestibular. Algo
similar vai ocorrer com a Previdência.
Falso
consenso
Dizem que a reforma da
Previdência é mais controversa e mais difícil de emplacar na íntegra. É
verdade. O problema é que quase não se ouvem, no parlamento, vozes
discordantes, que busquem alternativas à irrefreável supressão de direitos em
andamento. Não existem mobilizações, não existem protestos, não existem
discordâncias: o que existe é um falso consenso construído a partir de versões
apocalípticas do futuro.
Nada sinaliza que esses
monumentais retrocessos vão ser estancados no Congresso Nacional. A ebulição
conservadora, a letargia da antiga esquerda desmobilizada e a adesão cúmplice
da chamada grande mídia estão pavimentando o caminho, facilitando a tramitação
rápida e a aprovação sem discussão.
É provável que as
reações só surjam quando os efeitos se fizerem sentir. Aí será tarde. Daqui a
pouco virão os impactos draconianos da chamada PEC do Teto de Gastos; com ela,
a precarização do trabalho com as mudanças trabalhistas que já estão sendo
urdidas; e, completando o desastre, a reforma da Previdência que, no longo
prazo, vai surtir efeito genocida sobre os idosos pobres.
É evidente que
reformas nessas áreas são necessárias. Qualquer análise sensata conduz a esta
constatação. Mas o que se planeja é muito mais que isso: é repassar o custo da
crise atual para quem trabalha e para os mais pobres; e, no longo prazo,
sustentar esse ônus sobre a maioria da população. Resta saber por quanto tempo
ainda a população vai permanecer passiva em relação a todos esses absurdos.
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