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Santiago do Iguape apresenta diversos atrativos

Aqueles que desejam conhecer uma típica comunidade de pescadores e, sobretudo, encantar-se com as belezas naturais do Recôncavo baiano, não podem deixar de conhecer Santiago do Iguape. Distrito de Cachoeira, a localidade fica no quilômetro 20 da BA 880, rodovia que se articula com a BA 420, que liga as emblemáticas Cachoeira e Santo Amaro. Ali, a natureza caprichosa que teceu a Baía de Todos os Santos provoca uma irreprimível sensação de êxtase nos visitantes. Tudo é majestoso, divino.
A entrada de Santiago do Iguape fica num aclive suave da BA 880. A partir dali o visitante envereda por uma rua estreita, empoeirada, calçada com paralelepípedos luzidios e repleta de moradores à janela. É o cenário típico da comunidade numa ensolarada tarde de sábado. Ao longo da rua veem-se mercadinhos, muitos bares e pequenas lojas.
Depois de serpentear por algumas curvas, o visitante chega à praça principal da comunidade. Ali os espaços são mais amplos e, no entorno, há quadra de esportes, bares, restaurantes e mercadinhos. O que mais chama a atenção, porém, é o secular templo católico ali perto.
Contrariando a convenção – as fachadas de templos católicos sempre se voltam para as praças – a majestosa igreja de São Tiago, de arquitetura sóbria, mostra-se para o lagamar, do outro lado; para a via curta que se liga à praça voltam-se os imponentes fundos da igreja, que à tarde projeta uma sombra úmida, fresca, sobre o calçamento.

Lagamar

Enveredando pela rua lateral do templo, o visitante entende o porquê da opção: o lagamar estende-se pelas cercanias, manso, produzindo uma indescritível sensação visual; limitando-o, a vívida vegetação de mangue agita-se ao vento; e, mais além, florestas esparsas de coqueiros e dendezeiros contracenam com as condensações da Mata Atlântica, reluzentes à luz do sol de sábado.
O mangue e a água estendem seus limites ao sabor das marés: aqui, o mangue avança estendendo o tapete escuro e viscoso de lama; ali, o lagamar arroja-se, indo beijar as pedras e balançar suavemente as embarcações dos pescadores. A água escura beija a muralha do atracadouro infinitamente.
Espichando o olhar, o visitante extasia-se com a geografia recortada daquela condensação de águas da Baía de Todos os Santos e do rio Paraguaçu: a vegetação faz curvas caprichosas, insinuando-se aqui, retraindo-se ali; mais além, vê-se a margem oposta do braço de mar, diáfana, se diluindo no azul da tarde de sábado.
A água do lagamar se eriça mansamente, obedecendo, dócil, aos ventos que sopram da entrada distante da baía. A cor das águas oscila de maneira mágica, ajustando-se à moldura do céu: as nuvens carregadas emprestam-lhe um tom acinzentado; céu limpo torna a água azul, transparente, festiva para os olhos; e nuvens acidentais dão aquela tonalidade esverdeada, fantástica, que varia a cada instante.

Igreja

É por isso que se entende, então, a opção da fachada da igreja voltada para o lagamar: a posição do templo serve como reverência e moldura. Reverência, claro, ao lagamar e à natureza exuberante. Mas também moldura. É que de diversos outros locais das cercanias se vê a igreja, imponente e bela, contrastando, branca, com o verde da vegetação e a cor variante do lagamar.
Descontando plantas débeis que crescem na parte superior da fachada e a pintura que se desfaz aqui ou ali, a igreja apresenta um ar agradável. Sobretudo porque os cimos das torres são enfeitados com pedaços de louça que refletem, fulgurantes, o sol do Recôncavo.
Como símbolo do sincretismo, na beira do atracadouro em frente à igreja, há uma Iemanjá em miniatura para a devoção dos pescadores. Todos os anos, acontece a tradicional celebração em 2 de fevereiro, que constitui uma das principais datas festivas da comunidade.

Pescadores

Dezenas de canoas estreitas e compridas repousam às margens do lagamar, balançando ao sabor das ondas curtas, intermitentes. Apetrechos de pesca repousam nas canoas: gaiolas para a pesca do siri, remos e redes. Um pescador retira, cuidadoso, o pequeno motor que impulsiona sua embarcação. Ali perto, como resquício da cultura da cana-de-açúcar, resiste a chaminé quadrada de um engenho desativado.
Mas é a pesca a principal atividade econômica do distrito, além do turismo incipiente. Ali aporta gente de Cachoeira, Santo Amaro, Feira de Santana e até de Salvador para comprar pescado. Além do siri, outros produtos comuns são o robalo e o camarão.
O turista pode experimentar os produtos lá mesmo. Uma porção de camarão fresco, ao alho e óleo, sai por R$ 25. Entre uma garfada e outra é possível seguir se extasiando com a paisagem ao redor. A brisa suave, o canto melodioso dos pássaros e a luminosidade da tarde atam o turista àquele paraíso.
Prenhe de beleza, o Recôncavo constitui uma fantástica alternativa de turismo. Além da natureza privilegiada, há o patrimônio arquitetônico, a culinária, as danças e os cantos, a História e, sobretudo, o povo alegre e hospitaleiro.

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