Praticamente todos os principais candidatos ao governo da Bahia prometeram alguma coisa para a Feira de Santana com o objetivo de atrair o eleitorado local. Uma delas é a reativação do aeroporto, que há décadas figura como “elefante branco” no Santo Antônio dos Prazeres, na periferia da cidade. Mas há mais promessas: o chamado pólo logístico, a duplicação do Anel de Contorno, um estádio para o Fluminense de Feira mandar seus jogos e até mesmo a construção de um novo hospital para substituir o Clériston Andrade.
Deve haver outras promessas, das quais não consigo recordar. Apesar dos diversos matizes ideológicos envolvidos, com governo e oposição se engalfinhando, todas guardam pelo menos uma semelhança: são obras, ou “grandes obras”, como se dizia no passado. São concretas, palpáveis, possuem materialidade: podem ser facilmente invocadas à memória do eleitor, caso sejam efetivadas.
“Fulano construiu tantos hospitais”, “beltrano recuperou não-sei-quantas estradas”, “sicrano construiu açudes e barragens”. É mais ou menos assim a propaganda eleitoral, absolutamente sintonizada com as pesquisas de opinião, segundo dizem. Há também o discurso de que as propostas resultam de diálogo com os eleitores, de estudos de competentes equipes técnicas e por aí vai.
Na Feira de Santana, o raciocínio não se aplica a pelo menos um segmento específico: a educação. Como todos aderem à retórica das políticas universais de educação, ninguém entende do varejo, do miúdo, do que se desenrola em cada município. Como não se entende do tema, prevalecem as propostas banais, repetitivas, genéricas.
Realidade
Recorrendo a números apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tracemos o panorama da educação na Feira de Santana. No Ensino Fundamental 87,6 mil estudantes foram matriculados em 2009. Destes, 14,6 mil freqüentam escolas privadas e os demais se distribuíam entre estabelecimentos municipais e estaduais.
No Ensino Médio surge o gargalo: somente 22,5 mil estudantes foram matriculados, com pouco mais de 2,6 mil deles frequentando estabelecimentos privados. Assim, se é provável que no município o Ensino Fundamental atinge elevada cobertura, o mesmo não se repete no Ensino Médio. Há evasão elevada ou faltam vagas? Se o problema é evasão, quais as principais razões? Qual a influência da repetência nesses dados? São perguntas que permanecem sem respostas.
Em relação à qualidade, o cenário é igualmente desolador. Das 60 escolas de nível médio na Feira de Santana, as 10 mais bem avaliadas no Enem, do Ministério da Educação, são particulares. Os colégios Edgard Santos, Modelo e Assis Chateaubriand – onde, a propósito, eu próprio concluí o Ensino Médio – são os três mais bem avaliados, mas com desempenho inferior a 60% da nota total.
Futuro
Esses números dão o que pensar. Afinal, que qualificação está sendo oferecida aos jovens feirenses que frequentam as escolas públicas? Que oportunidades de ascensão social aqueles que integram as camadas sociais mais humildes encontram? Isso quando se fala dos que conseguem concluir o Ensino Médio. E a imensidão dos que não conseguem sequer atingir esse patamar?
Por outro lado, cabem mais indagações: que sociedade e que modelo de desenvolvimento se pretende construir quando não se oferecem oportunidades àqueles que – em tese – serão os principais protagonistas do país nas próximas décadas? Nenhuma nação no mundo moderno pode vislumbrar perspectivas de desenvolvimento com a educação que o Brasil oferece à sua juventude.
Com uma educação pública tão capenga, os discursos dos candidatos deveriam se reportar às melhorias efetivas no segmento, particularmente no Ensino Médio. Mas, como as “grandes obras” possuem inegável apelo eleitoral, é a elas que se recorre a cada quatro anos. A educação, por enquanto, é artigo de luxo que não oferece visibilidade para candidato...
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