Impressionante o papel que vem sendo desempenhado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva nas eleições de 2010. Certamente “nunca antes na história deste país”, pelo menos do Brasil pós-1985, um presidente da República deixou o poder com popularidade. Com a popularidade que Lula alcançou, então, nem se fala. João Figueiredo, o último dos ditadores militares, saiu pela porta dos fundos pedindo que o esquecessem. Zé Sarney saiu em meio ao caos inflacionário e à anarquia do seu mandato. Collor saiu através de impeachment e dispensa comentários e Fernando Henrique Cardoso saiu da presidência após uma eleição em que todos os candidatos renegavam seu legado.
Quem mais se aproximou foi Itamar Franco, que assumiu com a renúncia de Fernando Collor. Saiu com certa popularidade devido ao lançamento do Plano Real, mas seu cacife eleitoral logo se esgotou e, certamente, jamais exerceu a influência natural a um ex-presidente da República bem avaliado.
Nas eleições de 2010 Lula “é o cara”, como disse Barack Obama. A elevada popularidade alcançada com os êxitos consolidados ao longo do segundo mandato – o primeiro foi apenas mediano – tornaram o presidente da República o principal avalista da própria sucessão. Algo provavelmente inédito no Brasil.
Até mesmo os adversários estão tentando aproveitar-se da popularidade de Lula. O ex-governador de São Paulo, José Serra, por exemplo, abusa das imagens ao lado do presidente no horário eleitoral. Só falta estampar a foto do presidente nos banners, isso se não o fizer até o final da campanha. O único problema é que – em tese – José Serra é o candidato da oposição a Lula.
Feira de Santana
O gesto desesperado de Serra para diluir a imagem do “anti-Lula” ou do adversário da candidata de Lula, Dilma Rousseff, porém, pode representar um tiro no próprio pé. Notícias dão conta que em diversos estados ninguém faz campanha para Zé Serra, com receio de comprometer a própria eleição junto aos simpatizantes do presidente. O fato é observável até na Bahia.
Os candidatos que disputam votos na Feira de Santana, por exemplo, seguem o script à risca. Pouca gente – para não dizer praticamente ninguém – está estampando o nome ou o rosto de José Serra em panfletos, cartazes, banners ou nos carros de som que circulam pela cidade. Mesmo os que apóiam a candidatura ou integram a coligação. Exatamente o oposto do que ocorre com Lula.
A lógica aqui é cartesiana: se José Serra recorre às imagens de Lula para se manter competitivo na disputa presidencial, por que os demais candidatos vão se arriscar a ficar mal com o eleitor só para preservar a pretensa coerência partidária, se expondo a riscos desnecessários ao fazer campanha para Serra?
Vale-Tudo
Ética ou não, o fato é que a postura reflete bem o vale-tudo eleitoral que tomou conta dos adversários de Lula. E, a exemplo do que ocorreu em 2006, já circulam pela Internet mensagens das “viúvas” da Ditadura Militar, chorosas porque – até o momento – tudo sinaliza para uma nova vitória do Partido dos Trabalhadores. Em tom lastimoso, algumas mensagens exaltam as “realizações” dos ditadores.
Em 2006, durante a campanha eleitoral, o desespero levou os adversários de Lula a ameaçar que ele não tomaria posse, caso eleito. A alegação era o suposto envolvimento do presidente com o escândalo do “Mensalão”. Agora, com o recente “Mensalão do Pefelão” em Brasília, o discurso da ética foi posto de lado e alega-se que o Brasil vai se tornar a Venezuela de Hugo Chavez. Nada mais patético.
Os conservadores brasileiros precisam se acostumar com a democracia, por mais incômoda que ela lhes pareça. Quando venciam eleição após eleição, ninguém reclamava do povo. Agora, quando lhes falta discurso, proposta e sintonia com os novos tempos, culpam esse mesmo povo pelos sucessivos fracassos eleitorais. Talvez fosse mais produtivo conhecer melhor o país em que vivem.
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