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Diáspora afunda candidatura de Zé Serra


 

Quando os sisudos senhores de cabelos loiros e olhos azuis, encastelados nos confortáveis gabinetes dos organismos internacionais, olham com desdém para aqueles que eles consideram bárbaros que habitam o sul da linha do equador nem sempre o fazem sem alguma razão. No caso brasileiro, o pouco apreço que ainda se tem pela democracia e pelas eleições limpas reforça o preconceito. Afinal, nos países onde a democracia é mais madura quem perde uma eleição – ou está em vias de perdê-la – comporta-se de maneira civilizada e não costuma recorrer ao “tapetão” para tentar ganhar na marra.

Zé Serra, já no ápice do desespero, aproveitou como pôde os “factóides” maciçamente amplificados pela imprensa alinhada com sua candidatura. Fez uns programas chorosos no horário eleitoral e martelou diariamente o episódio do vazamento de informações da Receita Federal, deixando inteiramente de lado qualquer discussão sobre o processo político. Pesquisas posteriores aos “factóides”, no entanto, não refletiram o esforço e o cenário permaneceu quase inalterado.

Como estamos ainda distantes cerca de três semanas das eleições, é provável que a enxurrada de “factóides” não se esgote por aí. Depois dos “cardeais” do PSDB, da filha e do genro, só falta surgir a notícia de que um tio-avô de Serra teve o sigilo fiscal quebrado lá na Transilvânia. Com uma “bomba” dessas, é capaz de ressuscitarem o fantasma do “comunismo internacional” ou outra patacoada do mesmo naipe.

O fato é que é deplorável para um candidato com uma trajetória política respeitável recorrer a todo tipo de estratégia para ganhar as eleições, incluindo a Justiça, ou o “tapetão”, na gíria do futebol. Talvez seja a influência do pessoal que esteve tão à vontade durante o regime militar e que agora apóia sua candidatura de olho no butim pós-eleitoral.


Diáspora


Zé Serra está murchando nas intenções de voto em função de duas razões: a elevada popularidade do presidente Lula, que potencializa a candidatura Dilma Rousseff e a verdadeira diáspora verificada no consórcio eleitoral que lhe dá suporte. Como ninguém vota em candidato que não pede voto – ou que não tem quem peça votos para ele – a derrocada do ex-governador paulista nas últimas semanas é compreensível.

Na Feira de Santana, a campanha de Zé Serra, que nunca teve musculatura, encolheu nos últimos dias. Á exceção de um carro de som que passou em inusitada velocidade pelo Sobradinho na manhã de segunda-feira, tocando um jingle do candidato, não vi nenhuma outra forma de propaganda pela sua candidatura. Ganhar assim fica realmente difícil.

Em Salvador a popularidade do tucano não é muito maior, embora mais gente fique observando se pedem votos para ele ou não, o que de certa forma força uma discreta campanha. O candidato a governador Paulo Souto, por exemplo, colocou banners com a foto de Zé Serra no comitê que inaugurou ali perto do Itaigara. Mas, sutilmente, evita associar-se ao ex-governador paulista, já que os dois não figuram juntos nas peças publicitárias no comitê.


Perspectivas


Seria bom para a democracia brasileira que, fadados ao fracasso ou não, os candidatos apresentassem suas propostas, obedecessem aos acordos fechados nas coligações e promovessem uma campanha de alto nível, sem baixarias ou exploração de “factóides”. As eleições deste ano começam a deixar como lição a constatação de que o oportunismo não está presente apenas na relação entre candidato e eleitor, mas também na relação entre candidatos do mesmo consórcio eleitoral.

Conforme observamos noutro texto, Zé Serra prova do próprio veneno, já que no programa eleitoral tentou confundir o eleitor, colocando imagens dele mesmo ao lado do presidente Lula a quem, supostamente, faz oposição. Essa postura foi a senha para que seus aliados partissem, sem qualquer constrangimento, para o mesmo vale-tudo, esquecendo que dão suporte a uma candidatura à presidência.

Diretores de institutos de pesquisa já dão como favas contadas a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, contrariando tudo que a grande imprensa noticiou nos últimos quatro anos. É preferível, contudo, marchar para as eleições, já que pesquisa não define resultado. Porém, de antemão já é possível extrair algumas lições das eleições 2010, conforme se tentou fazer aqui.

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