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Garoa é promessa de fartura no inverno

Depois de um intervalo sem chuvas frequentes, ontem (10) a Feira de Santana amanheceu sob uma garoa fria, prateada. Até outro dia o que se viu foram precipitações intensas, boas para acumular reserva hídrica, sobretudo para saciar os rebanhos, mas pouco apropriadas para o plantio. Lembravam muito o verão, com torrentes, raios e trovões ocasionais. Serviram, porém, para restabelecer o ânimo do trabalhador rural, que partiu para cavoucar a terra úmida à espera do inverno.
Caso a chuva miúda persista nos próximos meses, há a promessa do feijão e do milho no inverno. Também deve crescer a oferta das hortaliças plantadas nos municípios que margeiam o Recôncavo, como Amélia Rodrigues e Conceição do Jacuípe. Nem é necessário mencionar que, com mais oferta, os preços caem, favorecendo os consumidores.
Apesar do calor abrasador, que se estendeu de janeiro a março – manhãs e tardes incandescentes eram sucedidas por noites sufocantes também, intensificando o desconforto –, não é justo reclamar da ausência de chuvas. As trovoadas restabeleceram um verde muito vivo ao longo daqueles meses. Mesmo que tenham caído sem a frequência desejável.
As manhãs de maio são de uma luminosidade espetacular. A luz alaranjada, branda, produz cenários quase cinematográficos. No entardecer breve, o casario feirense parece arder em brasas por alguns efêmeros instantes. Depois esse efeito se desfaz e a noite cai muito abrupta, como é comum quando o inverno se aproxima. Mas é bom também o período chuvoso, que assegura algum alívio nesse interminável sufoco econômico.
Caso as chuvas persistam, vai ser uma rara boa notícia nesses tempos atrozes que o País atravessa há muito tempo. Afinal, favorece o trabalhador rural, as pequenas comunidades e os povoados que experimentam algum dinamismo quando seus moradores contam com algum dinheiro no bolso. As cantorias da bata do feijão e o samba de roda nos terreiros defronte às casas traduzem bem esses períodos de fartura.
Os reflexos desses ciclos virtuosos se veem não apenas no pequeno comércio da zona rural, mas também no Centro de Abastecimento e no frenético comércio popular feirense. Principalmente quando as chuvas alcançam também aqueles municípios que estão sob o raio de influência comercial da Feira de Santana.
Mas as chuvas, a partir daqui, são mais comuns apenas nas cercanias da Feira de Santana. É o que município sempre desfrutou do privilégio de dispor de dois regimes chuvosos: as trovoadas que fertilizam o sertão e as prolongadas garoas que se precipitam sobre o Recôncavo.
É o privilégio da coexistência de dois biomas: a mata atlântica, mais ao sul, e a caatinga, na porção que se volta para o sertão ilimitado. Mesmo em tempos de mudanças climáticas, tão contestadas pelos gurus de plantão.

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