Organismos
internacionais como o Fundo Monetário Internacional, o FMI, começaram a estimar
que o decênio que se encerra ano que vem vai ser mais uma “década perdida” para
a economia brasileira. Para tanto, basta que se confirmem as estimativas de
crescimento para 2019 e para o próximo ano. O desempenho médio será pior que o
da afamada “década perdida”, como ficaram conhecidos os anos 1980 no Brasil.
Somando tudo, serão cerca de quarenta anos de crescimento pífio, incapaz de
elevar a qualidade de vida do brasileiro.
Na
prática, isso se traduz em quê? Num lento e angustiante aumento da renda per capita ano a ano. Na média, é
inferior a 1% a cada ano. Serão necessárias décadas para a renda do brasileiro
dobrar. Nesse intervalo, os curtos soluços de prosperidade foram intercalados
por intermináveis engasgos econômicos. Quem mais perde é quem menos ganha,
enfrentando obstáculos estruturais a qualquer ascensão social.
Exercendo
a liberdade de cronista – sem a necessidade de fundamentar os argumentos em projeções
sofisticadas, recorrendo apenas à intuição – cantei a pedra da “década perdida”
ainda no início da terrível crise cujos efeitos se arrastam até os dias atuais.
A recessão arranjada pelo petismo – o governo era capitaneado por Dilma
Rousseff – parecia profunda e ampla demais para ser contornada nalguns
trimestres, conforme previam os oráculos daquele governo.
Depois
da crise profunda, veio uma paralisia que não vai ser revertida no curto prazo.
Isso apesar de todas as expectativas positivas, das esperanças vãs, do
noticiário otimista que tentou varrer o pessimismo que contaminou o brasileiro.
Piorando tudo, a crise política: impeachment,
ascensão do controverso MDB e, por fim, triunfo da extrema-direita nas urnas, potencializando
as instabilidades.
As
soluções do status quo – são os
oráculos do “deus mercado” que, agora, prescrevem as receitas para reativar a
economia – passam, exclusivamente, por uma inédita supressão de direitos.
Redução de benefícios com a revogação de parte da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), teto de gastos com severas limitações à oferta de serviços
públicos e restrições no acesso à aposentadoria figuram no cardápio redentor.
O
Estado mínimo, porém, só chega para os mais pobres: militares e políticos no
exercício do mandato, por exemplo, terão seus privilégios preservados; isso
para mencionar a manutenção dos subsídios para os empresários amigos, o perdão
de dívidas que favorece os parceiros ruralistas ou os profanos mimos
tributários para as igrejas. Tudo isso segue – e seguirá – à larga. Afinal,
para isso, os cofres públicos são complacentes.
Lá
fora, o cenário permanece funesto, com crescimento modesto e instabilidades
constantes entre países como Estados Unidos e China,
respingando sempre sobre as projeções de crescimento global. Aqui dentro, além
do elevado endividamento dos brasileiros, o receituário adotado bloqueia
qualquer possibilidade de reaquecimento do mercado interno. É difícil acreditar
em retomada da economia no curto prazo com um cenário tão adverso.
Só maluco para acreditar em
retomada nesse contexto. O problema é que maluco é o que não falta lá no
Planalto Central...
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