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Arma agora é instrumento de trabalho de jornalista

Jornalista no Brasil vai poder andar armado agora. O “mimo” foi concedido por Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o mandatário do Vale do Ribeira. Diversas categorias – inclusive os políticos – poderão circular com seus trabucos na cintura. Só faltou o badalado “excludente de ilicitude”, aquela licença para matar. Em sociedades civilizadas os profissionais da imprensa se armam com blocos, canetas, máquinas fotográficas, gravadores, microfones, computadores e outros instrumentos afins à comunicação. Só que, agora, no faroeste caboclo tupiniquim, arma de fogo se tornou coisa de jornalista engajado em cobertura policial.
À primeira vista, a concessão é um afago. Mas nem tanto: inicialmente, parece mais um cala-boca, uma manobra marota para tentar atenuar a repercussão negativa. Enfiam-se os profissionais da imprensa no balaio para constranger aqueles que se opõem ao armamento da sociedade e para agradar àqueles que se encantam com um berro na cintura, conforme uma gíria antiga.
No fundo, não se trata de nenhum privilégio, nem de um gesto simpático. Afinal, é longo o histórico do mandatário de rusgas com a imprensa. Quem publica aquilo que o desagrada costuma ser hostilizado. Sobretudo pelas matilhas digitais que arreganham as presas nessas mídias sociais que dão tanta vazão às notícias falsas e às agressões. Isso permanece, apesar da sangria de admiradores do governo.
Desde que se lançou à aventura presidencial Jair Bolsonaro não enganou ninguém, justiça seja feita. Na época da campanha – um deserto de propostas – o único mote era o rearmamento da população. Alguns votaram movidos pelo ódio ao petê. Outros julgavam que as barbaridades que jorravam aos borbotões eram bravata, zoeira, segundo uma gíria atual. Deu no que está aí.
É injusto também acusar o governo do mandatário do Vale do Ribeira de não fazer nada desde que assumiu a presidência. Além de implantar o caos na administração pública – em breve muitos serviços públicos devem ser suspensos – o novo regime se mexeu bastante para afagar a indústria armamentista. Além da ampliação da posse, logo em janeiro, agora se anuncia o porte para diversas categorias.
Seguramente o novo regime não vai muito além do que está aí. Os atores em cena são desqualificados, de uma incompetência atroz, o roteiro é péssimo e o cenário é desolador. Por enquanto, boa parte da plateia está apática. Mas, do jeito que o País está ninguém duvide que, lá adiante, os dentes sejam rilhados e os punhos, cerrados. Afinal, paciência tem limite.
Mesmo que as excelências – os senhores políticos – exibam sofisticados trabucos na cintura.

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