A
reforma da Previdência sumiu do noticiário desde fevereiro. É curioso: até
então, havia a mais completa histeria sobre o tema. Parecia que, caso se retardasse
o desfecho por mais um punhado de meses, o País mergulharia num caos
irreversível. Sem dispor de votos para aprovar sua proposta polêmica, Michel
Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, sacou a intervenção federal no Rio de
Janeiro da algibeira para disfarçar sobre o fracasso iminente na votação. E
todo mundo – sobretudo a imprensa – que antes gritava, silenciou.
É
evidente que o Brasil precisa reformar seu sistema previdenciário para torná-lo
sustentável no longo prazo. Só que é preciso respeitar direitos, revogar privilégios
injustificáveis de determinados segmentos e facilitar que mais brasileiros
contribuam e tenham acesso ao sistema. Exatamente o que não prevê a atabalhoada
– e pouco debatida – reforma concebida pelo emedebismo.
Mas
o que pensam os postulantes à presidência da República sobre o tema? Até aqui,
limitam-se a cultivar platitudes. Alguns certamente pretendem encampar a nociva
proposta que está aí colocada, mas recorrem a um silêncio ardiloso para não
assustar os eleitores desavisados. Outros, pelo jeito – os mais limitados
intelectualmente –, não tem sequer o que dizer.
O
silêncio constrangedor não se limita ao tema previdenciário. Que medidas serão
adotadas para reverter a mais longa e profunda recessão das últimas décadas,
legadas por Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer? O que os presidenciáveis têm a
dizer aos 13 milhões de brasileiros que estão desempregados? E àqueles cuja
renda vem sendo comprimida pelo cenário recessivo? Quase nada de aproveitável
veio à tona até agora.
Esse
metafórico Raso da Catarina em termos de ideias aplica-se, também, ao cenário
eleitoral baiano. Que ideias defendem aqueles que pretendem ocupar o Palácio de
Ondina pelos próximos quatro anos? Quais os grandes projetos que se deseja implantar,
que ideias-força moverão a próxima gestão? Só com muita boa vontade para se
admitir que, até aqui, existe um embate de projetos. No máximo, há o burburinho
em torno de nomes.
Desemprego na Bahia
A
capital baiana, Salvador, exibe – há décadas, diga-se de passagem – o triste
título de campeã nacional do desemprego. Em termos absolutos e relativos, a
Bahia é um dos estados que abriga mais pobres no Brasil. Isso já serviu de mote
em campanha eleitoral, já desgastou governante, já alavancou candidatura, mas
nada mudou. Pelo contrário: com a recessão legada pelos últimos governos
desastrosos, o cenário piorou.
Boa
parte das atividades produtivas da Bahia concentra-se em faixas limitadas,
normalmente restritas à capital, ao entorno da Baía de Todos os Santos e às
maiores cidades do interior. O que pensam sobre isso os candidatos a
governador? Pretendem incentivar a desconcentração? Mas de que forma? Seria bom
que debatessem o tema publicamente, expusessem suas ideias.
Como
todos sabem aqui se mata em escala genocida. O negro jovem, pobre,
desempregado, residente na periferia figura como a principal vítima. Toneladas
de estatísticas atestam essa realidade, todos os anos. Além dos protocolares
elogios às polícias, o que pretendem fazer os futuros governantes? Sobre o
tema, aliás, a resposta para uma única pergunta já iluminaria muita coisa: será
que se considera normal a taxa de homicídios na Bahia? Quem tiver uma resposta,
já sai à frente.
Há muitos temas adicionais
que exigem um bom debate. A saúde e a educação – questões candentes -, por
exemplo, seguem pouco discutidas, embora badaladas no marketing. Eleição é
sempre uma oportunidade boa para o debate, embora quase sempre perdida. Essa se
reveste de importância adicional, em função das crises, embora até aqui
persista o metafórico Raso da Catarina em termos de ideias...
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