O que já era
descalabro há tempos enfim desembestou para o colapso nos últimos dias: Feira
de Santana parou junto com os ônibus que ficaram estacionados nas garagens das
empresas ao longo dos últimos dias. Nos pontos apinhados, a população se viu à
mercê dos preços exorbitantes cobrados por táxis, moto-taxistas, vans do
sistema complementar e mais uma infinidade de veículos particulares que
ingressaram no transporte clandestino à cata de lucros astronômicos.
O acúmulo de
pequenos transtornos pessoais desaguou na paralisia quase generalizada da
cidade: pacientes perderam suas consultas, estudantes deixaram de ir à escola, negócios
foram adiados, compromissos foram remarcados e, quem pôde, sustou qualquer
deslocamento: não valia a pena aventurar-se no caos. O baque sobre a economia
feirense, já embaraçada por conta da feroz recessão que assombra o País desde o
início de janeiro, é significativo.
Acostumado à
tarifa elevada, aos veículos sujos e malcheirosos, às constantes quebras por problemas
mecânicos e de manutenção, o feirense por fim experimentou o que significa a
total dissolução de qualquer regra sobre o transporte público: “tarifas”
extorsivas, insegurança e incertezas sobre o retorno para casa – ou a ida ao
trabalho – levaram a população às raias do caos durante dias consecutivos.
Caos maior só
se viu no jogo de empurra, comum nessas ocasiões, sobre a responsabilidade pelo
colapso: as empresas alegam que o
contrato expirou, a prefeitura afirma que só vence no dia 25 de agosto e os
rodoviários, no meio do imbróglio, tentam assegurar o pagamento dos seus
direitos trabalhistas. Quem sustenta o sistema – o usuário – só é eventualmente
lembrado nesse salseiro.
No meio da
crise, os inúmeros discursos exibem curiosas singularidades. Na Câmara
Municipal, por exemplo, mais que solidarizar-se com a população, vítima
cotidiana do sistema falido de transporte púbico, os vereadores preocuparam-se
mais em defender o prefeito. Provavelmente, já espicham o olho para o
calendário eleitoral que se avizinha. E enxergam, no episódio, potenciais
respingos sobre o governo.
Infraestrutura
O infindável circo
de horrores do transporte coletivo no município não se faz, porém, apenas de
veículos velhos, rodoviários reivindicando direitos trabalhistas, população
entregue à própria sorte e incapacidade das autoridades municipais de
solucionar a questão ao longo de tantos anos.
Estações sem
qualquer infraestrutura – sujas, inseguras, sem assentos ou sanitários decentes
– acentuam o desconforto de quem acumula coragem para aventurar-se nas viagens
incertas pelas ruas da cidade. Não é, portanto, problema apenas das empresas de
ônibus. Isso já há bastante tempo, mas só na última semana, com a eclosão da
crise, é que a prefeitura anunciou providências.
Institutos
desconhecidos vivem cravando que a Feira de Santana é das cidades mais
atrativas para novos negócios. Provavelmente o transporte público –
equivocadamente – não integra os critérios de avaliação. Caso contrário, qualquer
observador descuidado notaria o risco embutido nesse item: tarifas elevadas,
longas esperas, veículos superlotados e roteiros irracionais desanimariam
qualquer investidor, preocupado com a mobilidade de funcionários e clientes.
O fato é que o
colapso imposto ao feirense na última semana exige respostas que estão além de
uma simples licitação no transporte público, destinada meramente a trocar um
par de empresas. Por quê, por exemplo, o feirense segue refém das malcuidadas
estações caso deseje pegar dois ônibus e pagar uma única passagem? Por que não instituir o benefício na própria
bilhetagem eletrônica, como acontece em qualquer cidade minimamente civilizada?
Eis uma questão sem resposta.
Mas essa é
apenas uma questão. Há inúmeras outras, que exigiriam reestruturar todo o
sistema no município. Mas, até aqui, a prefeitura prefere apostar suas fichas
no polêmico BRT, totalmente descolado da triste realidade do transporte
coletivo na Feira de Santana. É aguardar para ver no que vai dar o acúmulo de
improvisos que orienta o sistema na cidade há tantos anos...
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