Pelo andar da
carruagem, 2015 vai figurar na História do Brasil como o ano das crises gêmeas:
por um lado, uma crise econômica, de graves efeitos sobre a vida dos
brasileiros – sobretudo os mais pobres – e uma imprevisível crise política, que
vem despertando inclusive humores autoritários, dignos de alarmar os democratas
mais otimistas. É o que reverbera, todos os dias, no noticiário. Essas crises,
a propósito, começaram em meados de 2014 e, pelo que se vê, se alimentam
mutuamente e prometem se estender ao longo dos próximos meses – a crise
econômica, particularmente, será ainda mais extensa – com resultados ainda imprevisíveis.
O
fato é que a palavra “crise” incorporou-se ao vocabulário do brasileiro médio,
que andava desacostumado da expressão, depois de um intervalo relativamente
longo de crescimento econômico e de estabilidade institucional. O que virá pela
frente habita o insondável, até mesmo para os mais intrépidos adivinhos de
plantão.
Essas
crises que monopolizam o noticiário, todavia, não enredam apenas Dilma Rousseff
ou o Partido dos Trabalhadores. A palavra “crise” aplica-se também às
desventuras fiscais dos estados, cujos governadores, eleitos no final do ano
passado, choram dificuldades, facilmente presumíveis desde que o garrote
orçamentário estreitou-se, ainda por volta de 2013.
Nos
municípios a crise é mais longa: reporta-se também a 2013, mas desde ao início
do ano já, quando novos prefeitos assumiram e outros tantos herdaram a própria
“herança maldita”. Essas dificuldades de caixa, a propósito, justificam as
promessas de campanha que se dissolveram nos primeiros dias de janeiro, sob o
sol ardente do verão.
Crises feirenses
Feira
de Santana não passou ao largo das crises que assolam o Brasil. Ao contrário:
por aqui, muita gente perdeu o emprego desde janeiro e outros tantos viram suas
expectativas frustradas a partir do alardeado ajuste fiscal. Foram os casos,
por exemplo, dos potenciais beneficiários das novas unidades habitacionais que
não serão erguidas, pelo menos por enquanto. Ou daqueles que viram minguarem as
oportunidades em cursos profissionalizantes, como o Pronatec.
A
emergência das crises, porém, gerou conteúdo próprio, local, genuinamente
feirense e não necessariamente atrelado às crises gêmeas de Brasília. É o caso
da crise na saúde, cujo principal ator é um singelo mosquito: o aedes aegypti. Sozinho, ele ampliou o
leque de epidemias que afligem o feirense: além da tradicional dengue, surgiram
a chikungunya e, mais recentemente, a
zika. Como subproduto dessas
epidemias, surgiu a síndrome de Guillain Barré.
Enquanto
perscruta em volta para driblar o mosquito, o feirense gagueja para pronunciar essas
novidades semânticas, portadoras de enfermidades atrozes. E o que se vê são
hospitais e ambulatórios, públicos e privados, lotados, enquanto os números
oficiais alardeiam avanços que o aedes
aegypti, implacável, desmente.
Transporte Público
A
outra crise – que inclusive encaixa-se num pitoresco exemplo de sucessivas
“heranças malditas” – é a do transporte coletivo. O grande avanço do ano é que
até na prefeitura se reconhece que a situação não é das melhores. Na prática, o
que se vê é um quadro de descalabro, quase colapso, de um sistema que não
funciona há muito tempo. E não funciona porque apresenta incontornáveis falhas
de concepção.
O
que se brandia como solução – o polêmico BRT na Getúlio Vargas – ensejou mais
uma crise que se arrasta, morosa. A ausência de diálogo com os usuários na fase
de elaboração do projeto, a polêmica derrubada de inúmeras de árvores na mais
arborizada avenida feirense e o controverso roteiro geraram uma acirrada
contestação que parece distante de se esgotar.
As
epidemias de dengue, Chikungunya, Zika,
o surgimento da Guillain Barré e as
intermináveis trapalhadas no transporte coletivo mostram que a Feira de Santana
também tem suas crises particulares no ano das crises gêmeas de 2015. Talvez
nem tão dramáticas quanto as que rondam o Planalto Central, mas que mesmo assim
enervam e irritam o feirense, desolado com a apatia com que são tratadas.
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