Há tempos acompanho com atenção um
movimento interessante na Feira de Santana: uma crescente efervescência
cultural que mobiliza a cidade e que, aos poucos, vai ganhando espaço, sobretudo
nas novas mídias que constituem as principais referências da garotada. Mais
animador, pelo que percebo, é a faixa etária de quem se engaja nesse movimento:
gente recém-saída da adolescência ou que, em muitos casos, apenas ingressou na
terceira década de vida. É alentadora essa mobilização: durante muito tempo, a
vida cultural do município permaneceu árida, apenas eventualmente sacolejada
por uns poucos entusiastas.
À primeira
vista, dois fenômenos parecem ter contribuído para esse movimento: por um lado,
a já mencionada revolução digital, que ampliou as plataformas de comunicação,
assegurando maior visibilidade, com custos sensivelmente menores. Noutros
tempos, os custos de produção – mesmo em estruturas amadoras – desencorajavam
quaisquer iniciativas, sobretudo dos jovens iniciantes.
Outra
mudança dramática foi a emergência dos coletivos como forma de organização para
a produção e a disseminação das artes. Sem burocracia ou rigidez aparentes e impulsionados
pelo entusiasmo voluntário, esses coletivos articularam uma complexa e densa
rede Brasil afora que agrega, orbitando a seu redor, artistas e entusiastas da
arte. Boa parte do recente interesse juvenil pela cultura se deve a esses
movimentos e, na Feira de Santana, não poderia ser diferente.
Os
coletivos, todavia, não são os únicos canais responsáveis pelo entusiasmo dos
jovens feirenses pela cultura. Muita gente vem lançando livros, novos cantores
exibem seu talento na noite feirense, grupos de dança criam novas coreografias e
a cidade, finalmente, desperta de uma letargia que a dominou por décadas. É
necessário, portanto, valorizar o bom momento da cultura feirense.
Espaços Culturais
Nesse
processo todo, o poder público vem agindo de maneira tímida, muito aquém das
necessidades da cultura feirense que, aliás, não se esgota com a Micareta ou os
festejos juninos. O mais evidente problema é a ausência de espaços culturais:
falta-nos um grande teatro, palcos permanentes para apresentações artísticas e
o pouco que existe – como a arena no setor de artesanato no Centro de
Abastecimento – deve ser engolida por um projetado camelódromo.
Falta-nos,
também, política para formação de público: de que adianta financiamento ou
espaços adequados se o público não comparece? Por outro lado, nas escolas e nos
bairros sobram crianças e adolescentes carentes de alternativas de arte e
lazer. Por que não levá-las às apresentações artísticas e aos museus, aproximando-as
da arte e da cultura? É tarefa simples – e até barata -, basta articulação
competente.
O papel de
fortalecer a cultura, porém, não é apenas do poder público: ela também pode ser
potencializada a partir de financiamento privado. É a tal da responsabilidade
social, tão exaltada nos reclames corporativos, mas de aplicação ainda
incipiente. Na Feira de Santana, financiar a cultura pode ser um bom negócio,
inclusive para os empresários.
Deficiências
Há muitos anos
a Feira de Santana tem uma Secretaria Municipal de Cultura. Os resultados dessa
já longa trajetória, no entanto, poderiam ser mais auspiciosos. Afinal, os
problemas começam pelos próprios titulares da pasta – vereadores, ex-vereadores
ou suplentes de vereadores, com escassa intimidade com o tema – e terminam na
escassez de recursos, passando pelos poucos dividendos eleitorais gerados pela
cultura, o que a relega a um plano secundário.
Não é de
estranhar: numa cidade cuja única Biblioteca Municipal precisa fechar
antecipadamente, porque os funcionários querem sair mais cedo, é óbvio que a
cultura ocupa lugar derradeiro na fila de prioridades. Mas hoje, pelo menos, a
Feira de Santana já dispõe de uma juventude disposta a brigar pelo seu direito
à cultura. Não é pouca coisa, mas ainda é apenas o passo inicial.
Com
insistência repisamos a ideia que, sem planejamento, governo nenhum sai do
lugar. Com a cultura não é diferente. Feira de Santana, a propósito, possui um
Plano Municipal de Cultura discutido pelo segmento. Soube que, logo depois de
finalizado, foi engavetado, como as demais iniciativas de planejamento nessa
cidade...
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