Há três
semanas divulgamos um número trágico: mais de 3 mil pessoas foram assassinadas
na Feira de Santana desde o ano 2000. Na semana seguinte, foram divulgados
dados oficiais que apenas reforçam o cenário pessimista: o número de
assassinatos voltou a crescer em setembro – foram 34 – em relação ao mesmo
período do ano anterior, quando houve o registro de 26 homicídios. A análise
dos dados permite deduzir que, em relação ao trágico ano de 2012 – quando 412
assassinatos foram computados oficialmente – os números só melhoraram, de fato,
no primeiro trimestre. Desde então, permanecem nos mesmos patamares elevados.
Evidentemente,
toda a população está exposta aos riscos da violência. Para alguns segmentos,
no entanto, os riscos são maiores. É o caso dos moradores dos bairros
periféricos, que normalmente tem baixa escolaridade, estão desempregados ou
subempregados, vivem em habitações precárias, são negros ou pardos e – o que é
igualmente estarrecedor – estão na arriscada faixa etária dos 15 aos 24 anos.
Tristemente,
a Feira de Santana vai galgando posições no ranking brasileiro das cidades mais
perigosas para um jovem viver. O “Mapa da Violência 2013”, divulgado pelo
Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos mostra que a Feira de Santana
ocupa a 69ª posição entre os mais de cinco mil municípios brasileiros. A taxa
aqui é elevadíssima: 118,7 jovens mortos a cada 100 mil, anualmente.
O
consolo – se é que isso serve de atenuante – é que há municípios baianos mais
mal posicionados: Porto Seguro, Camaçari e Teixeira de Freitas, por exemplo,
estão mais à frente. Ninguém alcança, porém, o recorde de Simões Filho, que
ocupa o topo da lista no Brasil. Sinal que a violência na Bahia tornou-se, de
fato, epidêmica.
Extermínio
Feira de
Santana vem, sistematicamente, exterminando sua população juvenil. Entre 2006
e 2011 foram contabilizados exatos 688 assassinatos de jovens com idade entre
15 e 24 anos. O problema é que os números estão crescendo a cada ano. No já
distante 2006 foram 88 assassinatos, com resultado praticamente igual no ano
seguinte (87); em 2008, mais um salto: 100 registros.
A
partir daí, entre 2009 e 2011, novos pulos: 413 homicídios no total, com
destaque para o ano de 2010, quando aconteceram 161 assassinatos. A versão do
“Mapa da Violência 2013” não contabilizou o trágico 2012, o mais violento ano
da historia da Feira de Santana. Quando isso ocorrer, provavelmente os números
serão ainda mais assustadores.
Com
população juvenil pouco superior a 100 mil habitantes, pode-se afirmar que, em
apenas seis anos, a Feira de Santana registrou o extermínio de aproximadamente
0,5% de sua juventude. Quando os números mais recentes foram computados – 2012
e 2013 – provavelmente vamos nos aproximar de mil homicídios em menos de 10
anos.
Políticas Públicas
Como
todos sabem, a escalada dos homicídios
juvenis no Brasil – e na Feira de Santana – não se deve apenas às evidentes
deficiências na estrutura da Segurança Pública. Fortalecer a educação em tempo
integral – mantendo crianças e jovens o dia todo na escola – é política de
educação, mas com evidentes reflexos sobre a segurança desses jovens.
Estudando, estarão menos expostos à violência nas comunidades pobres onde
vivem.
Os
jovens também precisam de mais perspectivas. A quem vem da periferia e alcança
os 18 anos não basta o status de sobrevivente – ele necessita visualizar um
futuro que lhe permita aprender uma profissão, se alimentar, viver dignamente,
pagar suas contas, casar e ter filhos, se assim o desejar. É o que se chamaria
de uma vida normal. A muitos, sequer a possibilidade de uma vida normal é
oferecida.
Nos
últimos anos o Brasil viveu avanços que são alardeados incessantemente através
da propaganda oficial. Faltam, porém, medidas que brequem a violência que, aos
poucos, começa a se tornar incontrolável.
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