Semana passada foi divulgada a notícia de que o jornal “A Tarde” ganhou uma ação milionária contra o Estado, por conta do bloqueio publicitário movido pelos à época ocupantes do Governo da Bahia. Os R$ 10 milhões de indenização ao jornal – que vão ser bancados pelo contribuinte baiano – representam mais uma pá de cal sobre a forma despótica com que a Bahia foi governada durante cerca de 40 anos e que finalmente chegou ao final em 2006.
Em meados da década de 1990, o “último dos coronéis baianos” desfrutava do ápice de seu poder: tutelava mais de 20 deputados federais e três senadores, indicava ministros, contava com a cumplicidade de centenas de prefeitos e, conforme se gabava, elegeu dois “postes” para o governo em 1994 e 1998.
Um desses postes iniciou o bloqueio contra o jornal “A Tarde” por uma razão singela: o jornal cumpria seu papel de noticiar. Mas, como as notícias contrariavam o clima festivo que marcava a dinastia, com muita propaganda anestesiando a população, a represália foi muito dura.
Comentava-se que “A Tarde” poderia ter o mesmo destino do extinto “Jornal da Bahia”, alvo de perseguição semelhante, só que ainda durante a Ditadura Militar. Ou seja: fechar as portas, o que felizmente não aconteceu. As eleições de 2006 representaram o mais duro golpe no modelo político anacrônico da Bahia, legando ao atual presidente do Senado o título de “último dos coronéis do Nordeste”.
Derrocada
Semana passada também foi noticiado que, discretamente, todos os antigos “escudeiros” do coronel abandonaram o barco, ausentando-se da cerimônia em que foi homenageado. Gente que jurava fidelidade eterna optou por uma distância prudente. E, contrariando a folclórica história da viúva fiel ao marido morto, as até recentemente inconsoláveis viúvas andam serelepes, flertando com antigos adversários.
Sinal que o poder inabalável de há uma década, que aplicava represálias a órgãos de imprensa usando – ou deixando de usar – o dinheiro do povo conforme as conveniências pessoais, se desfez. Hoje, atordoados, seus herdeiros buscam renegar seus métodos e alinhavam um discurso que, inconsistente, não convence mais ninguém.
Até quem ainda não se convenceu de todo do passamento do coronel vai, aos poucos, abandonando o sebastianismo profano que foi alimentado até as eleições de 2008. Tal como a crença de que o rei português “Dom Sebastião” se ergueria da sepultura para liderar os católicos contra os hereges, alguns pareciam acreditar que o coronel se reergueria do túmulo para vencer eleições e “redimir” a Bahia.
Democracia
A sentença favorável ao jornal “A Tarde” serve para sacramentar a derrocada de um antigo modelo político falido. Mas serve, também, como alerta para os fiéis liderados dos déspotas de ontem: asfixiar a imprensa é um instrumento temerário, particularmente numa época em que a Internet vai assumindo papel protagonista e em que a população vai ficando, a cada dia, mais esclarecida.
Assim, quem espicha o olho enxergando em 2011 um revival do pré-2007, deve ficar atento. O forte tensionamento político da Bahia até 2006 sofreu uma ruptura. Essa ruptura estilhaçou a forma anterior, arcaica, de fazer política e não adiante ficar catando os cacos espalhados pelo chão. Isso é tão certo que até o discurso dos antigos correligionários foi recauchutado: ganhou verniz social, embora as práticas não tenham avançado. Perdeu a prepotência, já que seus herdeiros poderão apoiar, em 2010, dois antigos desafetos do ex-senador: o atual ministro Geddel Vieira Lima para o governo do estado e o governador de São Paulo, José Serra, para a presidência. O suficiente, sem dúvida, para fazê-lo rolar no túmulo...
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