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Notícias da Feira de Santana nos anos 30 (IV)



Afirma o senso comum que o povo brasileiro não tem memória. No que se refere à conservação de informações estatísticas importantes sobre a História Brasileira, este raciocínio se confirma, principalmente em relação aos municípios. Feira de Santana, infelizmente, não foge a esta regra e as referências às décadas passadas, quase sempre, são relegadas à memória dos que as viveram. A década de 1930 (particularmente o intervalo entre 1931 e 1937) em parte constitui uma louvável exceção. Nela começou a se construir uma estatística com informações econômicas e sociais sobre a Bahia e seus municípios.
Estes dados constam no Anuário Estatístico da Bahia publicado então. Através da leitura e da comparação, o leitor poderá acompanhar como evoluiu a Feira de Santana, que em contínua transformação, embora lenta, começava a ganhar as feições sob as quais a conhecemos hoje.


A Feira de Santana em 1934

As mudanças lentas constituíam a tônica da Feira de Santana nos anos 1930. Em relação aos últimos anos, houve apenas uma alteração expressiva na vida do município: o número de eleitores cresceu, passando dos 2.600 do ano anterior para 3.653 em 1934. Havia mais votantes em Santa Bárbara (608) e em Bom Despacho (553) do que na própria sede do município (484).
Em relação à educação, pouco mais de mil estudantes matricularam-se nas escolas naquele ano: 458 alunos e 545 alunas, o que significou uma redução em relação aos anos anteriores. A freqüência foi ainda menor: 464 alunos do sexo masculino e 539 do feminino. Houve, inclusive, uma redução no número de escolas registrado pelo censo: caiu de 33 para apenas 30. O ensino na cidade era ministrado por 50 professores catedráticos estaduais, cujos sexos não foram especificados. Ainda não havia escolas particulares.
O preço médio do quilo de carne voltou a subir, afetando o bolso dos feirenses. Foram registrados os seguintes preços: 1$200 pela carne bovina (com 7.800 animais abatidos), 1$400 a carne suína (com 1.960 abates). O preço médio da carne dos 1.800 ovinos abatidos alcançou mil e trezentos réis e a dos 600 caprinos, mil e quatrocentos réis.

Esgoto e Água

Municípios como Salvador, Santo Amaro e São Félix já dispunham de rede de esgoto, o que não acontecia com Feira de Santana, que também não dispunha de abastecimento de água nem de iluminação elétrica residencial. A compensação era as mesmas 446 lamparinas do ano anterior que iluminavam 368 residências espalhadas pela cidade. Pelo menos o custo do contrato se mantinha inalterado em relação aos anos anteriores: 58 contos de réis.
Para os ferreiros houve uma boa notícia: aumento do valor pelo dia trabalhado, que passou de 9$000 para 10$000. Pedreiros e carpinas, por exemplo, não passaram a receber mais (permaneceram nos oito mil-réis) e os caseiros foram incorporados ao levantamento, com salário de cinco mil réis. Continuavam como mais mal-remunerados os trabalhadores de enxada, que recebiam somente dois mil e quinhentos réis.
Calculou-se em 436 o numero de comerciantes locais, com capital de giro estimado em 5.016:500$000. Estes negociantes deram uma contribuição decisiva para que a prefeitura arrecadasse 354: 717$951, o que não foi suficiente para cobrir uma despesa estimada em 357:213$357. A novidade é que pela primeira vez se fez uma previsão para o orçamento anual, que se mostrou muito conservadora: 311:007$000.
A população feirense crescia mais de 2% ao ano: em 1934 alcançou 107.124 moradores. Esta população pacata não arranjava grandes problemas para a Justiça, já que somente 66 casos foram julgados em todo o ano. Destes, 49 eram cíveis, 11 de outra natureza e seis foram por causas criminais.Em março do ano seguinte, o então prefeito Elpídio Nova deixaria o cargo novamente. Seu sucessor seria Heráclito Dias de Carvalho, que permaneceria no poder até novembro de 1937, quando o Estado Novo seria instituído por Getúlio Vargas, acompanhando os ventos totalitários que sopravam na Europa...

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