As chuvas que caem na Bahia neste mês de maio lançam esperanças de que, nos próximos meses, os agricultores consigam colher o que vem sendo plantado nos últimos dias. Essas chuvas, impiedosas no Maranhão e no Piauí, tormentosas em Salvador e Região Metropolitana, chegam em boa hora para os municípios baianos que sofrem com a estiagem desde meados do ano passado. E afastam o fantasma de uma seca prolongada, que tornaria ainda mais difícil a vida de quem depende da lavoura e da pecuária no sempre imprevisível semiárido.
Todavia, as chuvas de 2009 apenas adiam o enfrentamento de um problema que desafia os governos há séculos e que ainda não teve, na prática, uma abordagem adequada. As secas e as longas estiagens são um fenômeno natural na região: as chuvas são irregulares em intensidade e dispersas espacialmente, além de escassas, alcançando uma média anual de apenas 800 mm. Normalmente, caem entre fevereiro e maio.
Antigamente se pensava que era possível “erradicar” as secas. O conhecimento científico acumulado no século XX mostrou que essa ambição é uma tolice. Estudos e pesquisas apontaram a direção correta: não se “erradicam” as secas transformando regimes pluviométricos. O que se pode fazer é adaptar as atividades econômicas às condições climáticas e tirar o máximo proveito do imenso potencial que o semiárido apresenta.
Alguns avanços experimentados nos últimos anos, a exemplo de programas como o Garantia-Safra ou as antigas frentes de trabalho – adotadas quando a situação nos sertões já era desesperadora – tem o mérito amenizam o problema, mas não conduzem a soluções duradouras.
Diversificação
O plantio do feijão, do milho e da mandioca e a criação de bois e cabras existem há séculos e pouca mudança sofreu. Se chove, o agricultor se alimenta e vende a produção excedente por preços baixos, porque a boa safra derruba os preços. Se não chove – o que é rotineiro – o pouco capital acumulado se desfaz e ele acaba dependendo dos programas do governo.
Se dispusesse de formação para exercitar melhores técnicas de produção e se desfrutasse de condições para agregar valor ao que produz, sem dúvida as condições do sertanejo melhorariam. Afinal, ele teria mais produtos a ofertar, melhor elaborados e os venderia a preços mais elevados. Para isso, no entanto, é necessário conhecimento, apoio técnico, cooperação entre os produtores e uma visão empresarial das atividades.
Todavia, ao longo dos anos, essas ações sempre chegaram de forma fragmentada e às vezes sem o devido respaldo técnico. Assim, às vezes existe assistência mas faltam sementes e máquinas, às vezes a safra é boa mas não existe beneficiamento da produção e os preços obtidos são muito baixo e às vezes sobra até crédito, porque não existem projetos.
Feira de Santana
Na Feira de Santana, no verão, é comum haver boa safra de caju. Como se beneficia pouco o fruto na produção de sucos, polpas ou doces, os produtores saem vendendo a preços irrisórios, de porta em porta pelos bairros. Muito da safra se perde, porque o caju é altamente perecível. E o agricultor, coitado, acaba perdendo uma excelente oportunidade de elevar sua renda.
O mesmo se passa com outros produtos, como a farinha negociada nas feiras-livres ou a carne bovina cujo preço se deprime nos períodos chuvosos. Ou o milho e o amendoim que agradam ao paladar do feirense, mas que não são beneficiados e que, vendidos in natura, colaboram pouco para melhorar a vida de quem vive no campo. Mudar tudo isso exige políticas articuladas, mobilização dos trabalhadores, mais educação e formação técnica e, sobretudo, tempo. No entanto, a imensidão dos desafios não pode justificar a inércia. Pelo contrário, deve servir de estimulo, afinal o fortalecimento da agricultura familiar implica em mais trabalho, mais renda, menos pobreza, menor êxodo rural, mas desenvolvimento e mais justiça social.
Será que os administradores públicos tem realmente interesse em dar condições ao homem do campo para sair deste sofrimento constante? Acho que com um pouco de boa vontade, informação e organização estes agricultores deixariam de mendigar nas portas das prefeituras. Sem contar que uma parte das verbas emergencias para a seca deixariam de ser "afanadas". Se em outros paises é possível produzir em desertos, porque não produzir no nosso sertão? Talvez o medo seja perder o controle sobre esses votos.
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