Chuvas intensas e frequentes que destroem,matam e desabrigam, a Covid-19 avançando naquela que – ao que tudo indica – será mais uma onda da doença no Brasil, a omissão criminosa de governantes demagogos, fome, desemprego, estagnação econômica... o ano de 2022 não começou muito melhor do que os anteriores, não. Aliás, não é de hoje: o Brasil vem andando de lado faz tempo.
Reconheço minha ignorância em questões esotéricas. Mas, para quem olha de fora, parece que uma nuvem de energia densamente negativa, maléfica,maligna, estacionou sobre o Brasil nos últimos anos. “Crise econômica” é expressão que entrou no vocabulário desde meados de 2014 e não saiu mais. “Crise política”, então, naturalizou-se. Parece que o horror e a barbárie tornaram-se regra para muitos.
Acossado por estas crises entrelaçadas – há também a ética – o brasileiro médio, nas ruas, tornou-se mais intolerante, mais agressivo, mais competitivo. No trânsito, na fila do supermercado, nas viagens de férias e até mesmo nas celebrações familiares muitos exibem o cenho franzido, a expressão carrancuda. Qualquer fagulha desencadeia tempestades de altíssima voltagem.
A educação corporativa que faz a cabeça do brasileiro não oferece ferramentas para lidar com uma perspectiva mais fluida, esotérica. Incapaz de pensar fora da caixinha organizacional – só para empregar este infame lugar-comum – muitos recorrem às igrejas que brotam em cada esquina. O problema é que esse Jesus Cristo empreendedor, competitivo, corporativo, também não traz respostas. É mais do mesmo.
Encurralado, coitado, o brasileiro com seu medo apenas retroalimenta essas densas energias negativas – a nuvem – que pairam sobre o País. Há quem se reconforte ansiando pelo apocalipse. O pior é que, por enquanto, no horizonte só há o apocalipse pagão protagonizado pela trupe de Jair Bolsonaro, o “mito”, no poder.Apocalipse pagão, a propósito, que se confunde com a nuvem metafórica já referida.
Qual é a solução, então, indagará o brasileiro competitivo, afoito para demonstrar sua disposição pragmática. Talvez desapegar-se do autoengano seja uma decisão essencial a princípio. O festejado otimismo do brasileiro médio, às vezes, leva-o a camuflar a realidade, tingi-la com tons róseos. Coletivamente, fingindo que muitos problemas não existem, foi-se afundando neste atoleiro que se vê aí.
Um grande primeiro passo – por exemplo – é aceitar que há uma pandemia em curso e que, com ela, se impõem cuidados e restrições. Muitos insistem em negar os fatos, cultivando uma burlesca realidade paralela.Aceitar os fatos ajudará, também, no extenso, íngreme e tortuoso caminho de retomada de um projeto de civilização que se abandonou neste país.
Mas isso é para mais adiante. Por enquanto há, aí, essa imensa e densamente energizada nuvem metafórica que arrastou o país para o pântano em que, atualmente, tenta-se sobreviver. Primeiro é preciso começar a dispersá-la...
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