O Nordeste
já teve líderes políticos melhores. Daqueles que não deixariam as sistemáticas
agressões de Jair Bolsonaro à região passar incólumes. O “mito” começou
chamando os governadores nordestinos de “paraíbas”, pejorativamente, e, no
início da semana, fez novas referências àquilo que ele chama de “cabeça chata”,
também em tom depreciativo. Com o deserto de lideranças políticas de expressão,
ninguém se manifestou. Pelo menos de maneira contundente.
Houve
silêncio também em relação a um absurdo ainda maior: o “mito” condicionou a
liberação de recursos ao reconhecimento público dos governadores. Noutras
palavras: nosso heroi pretende, desde já, que os chefes do Executivo da região
convertam-se em seus cabos eleitorais, preparando terreno para 2022, quando
pretende sacramentar sua gestão disputando a reeleição.
Como se ele,
de maneira autocrática, pudesse definir para onde vai o dinheiro que todos os
brasileiros pagam na forma de impostos. Comporta-se como se fosse o “dono” do
orçamento da União. Isso é novidade só para os desinformados: a maneira
heterodoxa como o “mito” manuseava verbas de gabinete era, já naquele tempo, um
sinal muito eloquente.
A bizarrice
soma-se a uma sucessão de declarações absurdas num intervalo curto. Preocupado
em manter suas matilhas digitais mobilizadas, o “mito” fustiga-as, certo de que
arreganharão os dentes em sua defesa e abocanharão as canelas dos divergentes. Por
enquanto, apenas nas convulsionadas mídias sociais. Mas, da forma como o País corteja
a barbárie, não se duvide que resolvam fazê-lo nas ruas.
Espertamente,
o “mito” alimenta o quiproquó para levantar poeira e encobrir as patentes
fragilidades do seu tumultuado governo. Afinal, concretamente, ele não tem
nenhuma proposta para o Nordeste, sob nenhuma perspectiva. Aliás, é necessário
ser justo: nem pro Nordeste, nem pra região nenhuma. Só que, raso, tosco e limitado
intelectualmente, despeja sobre os nordestinos o volume de preconceitos que
acumulou ao longo da vida.
É aí que se
coloca a necessidade de lideranças que se posicionem, apontem os rumos que esse
governo não consegue propor, comecem a construir uma agenda. Afinal, apesar do
“mito”, o Brasil vai seguir existindo e precisará, lá adiante, se recompor do
desastre que se vê aí. Desastre – justiça seja feita – que não se deve apenas
ao nosso heroi. Afinal, a paralisia econômica e a crise política já estavam na
praça quando ele chegou ao poder, embora venha contribuindo para tornar tudo
muito pior.
O anunciado “Consórcio Nordeste” talvez seja uma
iniciativa interessante que, à frente, se traduza em resultados interessantes. Mesmo
embrionária, a proposta se contrapõe à aridez de ideias que marca o novo regime
e a exaltada “nova política”. É pouco, mas é o que há para o momento.
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