Em texto
anterior apontamos a necessidade da construção de uma agenda para a Feira de
Santana. Poderíamos defini-la como uma agenda de desenvolvimento. Mencionamos,
também, algumas intervenções realizadas em Salvador que contribuem para elevar
a qualidade de vida na capital, como os sistemas viários do Aeroporto e da
Rótula do Abacaxi e o metrô.
Anuncia-se,
para o segundo semestre, a licitação da ponte Salvador-Itaparica. Mesmo
localizada a mais de uma centena de quilômetros da Feira de Santana, a badalada
obra vai afetar a vida da Princesa do Sertão.
O projeto
divulgado pelo governo estadual prevê que, além da ponte ligando a capital à
ilha, será construído o Sistema Viário Oeste (SVO), um todo integrado que
pretende facilitar a conexão entre o Oeste e a Chapada Diamantina e Salvador.
Para tanto, pretende-se construir uma espécie de anel suprametropolitano,
visando conectar quatro rodovias federais: as BR 324, 101,116 e 242.
Objetivamente,
o projeto permitirá que aqueles que viajam para a capital e que necessitam
contornar a Baía de Todos os Santos não precisarão mais fazê-lo. Bastará
acessar o SVO e atravessar a ponte, encurtando a viagem e chegando pelo centro
da capital baiana. A redução de tempo será significativa, mas a previsão é que
o pedágio custe R$ 45.
Quem está no
Recôncavo, no Baixo Sul ou viaja desde a Chapada Diamantina ou do longínquo
Oeste baiano tende optar por esse caminho. Anos atrás apontamos que uma mudança
tão radical tende a provocar uma reconfiguração logística em parte do
território baiano. Com a intervenção, algumas regiões tendem a se tornar mais
dinâmicas e, outras, perderão protagonismo.
É evidente
que, caso esse cenário se confirme, há a tendência de que a Feira de Santana
perca parte do seu vertiginoso fluxo diário. O Portal do Sertão vai se tornar
menos portal, porque a amplitude de destinos que exigem passagem por aqui vai
diminuir. Em alguma medida, todo mundo que vai para o Sul e o Oeste dispensará
passar pela cidade, inclusive pela BR 101, que fica a 15 quilômetros daqui.
O dano
maior, porém, é que o Sistema Viário Oeste poderá produzir impactos mais
profundos, sobretudo na esfera econômica, mercantil. Quem antes comprava ou
recorria à oferta de serviços daqui pode optar por seguir até Salvador cortando
caminho. Ou escolher Santo Antônio de Jesus, Amargosa e até Cruz das Almas, que
ficarão, geograficamente, no novo centro pulsante da economia da região.
É claro que
a articulação comercial da Feira de Santana com boa parte da porção
setentrional da Bahia tende a ser preservada.
Mas a conexão d o município com o Recôncavo próximo, com suas cidades
mais prósperas, tende a se reconfigurar, com efeitos que exigem mensuração. O
impacto, inclusive, pode ser significativo.
No passado,
a vizinha Cachoeira perdeu protagonismo quando as estradas carroçáveis e,
depois, as rodovias, arrebataram o protagonismo da ferrovia e da navegação de
cabotagem. Cidades como Alagoinhas também foram prejudicadas quando o País
abandonou a ferrovia como alternativa logística. São dois exemplos que deveriam
despertar a atenção dos líderes políticos locais.
Apesar do
anúncio oficial, permanece o ceticismo em relação à obra, por causa do momento econômico
pouco empolgante. Também será longo o tempo até sua conclusão, mesmo que surjam
poucos empecilhos. Mas, mesmo assim, é necessário começar a pensar o impacto da
ponte sobre a Feira de Santana.
A Feira que se deseja para a próxima década,
portanto, pode ser profundamente impactada pela ponte Salvador-Itaparica.
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