Afirma o senso comum que o povo brasileiro não tem memória. No que se refere à conservação de informações estatísticas importantes sobre a História Brasileira, este raciocínio se confirma, principalmente em relação às cidades. Feira de Santana, infelizmente, não foge a esta regra e as referências às décadas passadas, quase sempre, são relegadas à memória dos que as viveram. A década de 1930 (particularmente o intervalo entre 1931 e 1937) em parte constitui uma louvável exceção. Nela começou a se construir uma estatística com informações econômicas e sociais sobre a Bahia e seus municípios.
Estes dados constam no Anuário Estatístico da Bahia publicado então. Através da leitura e da comparação, o leitor poderá acompanhar como evoluiu a Feira de Santana, que em contínua transformação, embora lenta, começava a ganhar as feições sob as quais a conhecemos hoje.
A Feira de Santana em 1936
O Anuário Estatístico da Bahia de 1936 registrou modestos avanços na vida do município. É que transcorria lentamente a prolongada transição entre a Feira de Santana moderna e aquela dos anos 1930. Mas já naquele ano registrava-se a existência de um objeto integrado à comodidade da vida contemporânea: o telefone. Dos 44 aparelhos listados, 27 atendiam a estabelecimentos comerciais; 12 eram de particulares, dois funcionavam em repartições públicas municipais e outros dois em repartições federais. Existia somente um telefone público.
Fazendo jus à condição de cidade comercial, porém, crescia a olhos vistos o número de comerciantes: dos 363 de 1933 saltou-se para 703 três anos depois, que ostentavam um capital de giro que pulou de 4.476 contos de réis para 11.911 contos, quase triplicando. Nas propriedades rurais o progresso não foi tão vertiginoso: os 5.165 imóveis rurais de 1934, que valiam 17.071 contos de réis, saltaram para 5.253, com valor estimado em 20.305, dois anos depois.
Algumas categorias profissionais foram também beneficiadas pela prosperidade da época: os ferreiros, por exemplo, que ganhavam 5$000 diários em 1930, passaram a ganhar dez mil-réis seis anos depois. Outros trabalhadores beneficiados: pedreiros (que ganhavam 6$000 e pularam para oito mil-réis) e vaqueiros (salto de 2$500 para cinco mil-réis). Já os trabalhadores de enxada permaneceram com a mesma remuneração (dois mil e quinhentos réis) e os lenhadores e carreiros também (ambas as categorias permaneciam ganhando três mil-réis).
População
Curiosamente a população feirense encolheu: foram registrados 99.099 habitantes em 1936, contra 109.620 no ano anterior. Esta é a menor população estimada desde 1931/1932, quando foram registrados 103.946 moradores. Como não houve desmembramento de distritos e não existem informações sobre uma grande migração à época, é possível que a diferença se deva a erros de contagem nos anos anteriores.
A certeza existente é de que a estrutura em saúde era muito precária: havia somente um hospital (a Santa Casa de Misericórdia) com 40 leitos disponíveis e atendimento clínico geral. Os recursos humanos ofertados também eram limitados: havia somente um médico, um farmacêutico, duas enfermeiras, um auxiliar de laboratório e o atendimento contava com a colaboração de quatro religiosas. Em 1936 o hospital realizou 795 atendimentos, sendo 423 masculinos e 372 femininos.
Não houve muito progresso na iluminação pública: 458 lamparinas para 500 prédios. A iluminação residencial permanecia à base de lampiões, não havia esgotamento sanitário e a água encanada, que já chegava a Salvador, Cachoeira, Caetité, Santo Amaro e Valença, ainda era uma promessa para a Feira de Santana.
E no último ano em que a frágil democracia brasileira ainda vigia (em novembro de 1937 Getúlio Vargas promoveu um golpe, instituindo a ditadura do Estado Novo) o município tinha 4.512 eleitores. Somados aos eleitores de São Gonçalo dos Campos (1.389), a zona eleitoral somava 5.901 votantes...
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