Faltam,
ainda, onze meses para a década terminar. Mesmo assim, desde já, pode-se
afirmar que este é o decênio mais violento da história da Feira de Santana. Somando
tudo desde 2011 – os dados são oficiais, da Secretaria da Segurança Pública – até
2019, são exatas 3.134 mortes contabilizadas. Na década anterior somaram-se
precisas 2.159 mortes. Um salto de 45,15%.
Aqueles que
apertam o gatilho – e que nem sempre são identificados – seguem atuando com
desenvoltura: só em janeiro foram mais de 30 mortes. Em fevereiro, que apenas
começou, a estatística macabra segue se ampliando, com mais cadáveres
contabilizados. “Todo dia morre um em Feira de Santana” comenta o povo, pelas
esquinas, com ar de espanto, todos os dias.
Desde 2001 e
até 2019 foram assassinadas 5.293 pessoas no município. Somados ao estoque de
2020, já se ultrapassou a marca dos 5,3 mil homicídios. É quantidade suficiente
para um conflito de grandes proporções, a exemplo daquelas guerras sangrentas que
rebentam em remotas regiões do planeta.
Mas, por
aqui, a tragédia não desperta indignação. Ao contrário: a moda é matar,
conforme se vê com a defesa enfática do “excludente de ilicitude”, aquela
licença para as polícias apertarem o gatilho sem maiores embaraços. Cristãos
piedosos alegam, confortados, que só morrerão os “marginais”.
Guerra não declarada
Quem são os
marginais? Ou, melhor dizendo – já que aqui se atravessa uma interminável
guerra no varejo, não declarada –, quem são os inimigos internos a serem
abatidos? Os jovens pobres, negros, pardos, residentes nas favelas, periferias
e mocambos, com pouca instrução e sem emprego formal.
O fato de
apenas parte deles serem envolvidos com o crime não sensibiliza: basta reunirem
essas características para serem relegados à condição de suspeitos, alçados à linha
de tiro. Quando morrem as explicações são as mesmas: tombaram na guerra de
facções, estavam inadimplentes com traficantes de drogas, foram justiçados por
crimes contra o patrimônio.
Na década
que finda em dezembro, só em 2015 houve menos de 300 mortes, quando sucumbiram
279 pessoas, segundo a estatística da SSP. Nos demais sete anos foram sempre
mais de três centenas. A exceção foi 2012, quando inacreditáveis 412 tombaram
nesta guerra urbana. Em um único dia – durante um motim da Polícia Militar –
foram mais de 40 assassinatos.
Até algum
tempo atrás ainda havia contraponto a esse extermínio. Só que, hostilizados e
rotulados como “defensores de bandidos” pelos entusiastas da barbárie, os
defensores dos Direitos Humanos perderam protagonismo. Foram acuados com o
triunfo do Tanatos, por essa pulsão
pela morte tão comum nesse Brasil atual.
O momento é de refluxo, mas a sensatez sinaliza
que é necessário sustentar a árdua batalha contra a barbárie. Ou alguém
considera promissor o futuro de um País que registra dezenas de milhares de
assassinatos todos os anos?
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